16 Jan, 2019

Cruz Vermelha lança Heart Center

Com nova administração desde maio, o Hospital da Cruz Vermelha (HCV), em Lisboa, tem em curso uma reestruturação, com a aposta no desenvolvimento da área de cardiologia, na qual a unidade quer ser centro de referência no curto prazo.

O novo Heart Center do HCV tem abertura prevista para o mês de abril de 2019, e irá funcionar 24h por dia nas atuais instalações do HCVP, podendo ser acedido pela população em geral. Prevista está também a criação de uma linha telefónica que pretende facilitar o acesso de quem queira aceder ao centro, bem como de quem já é tratado e acompanhado. Esta linha funcionará 24 horas por dia, havendo uma equipa constituída para o atendimento e um médico permanentemente disponível. Um call center, destinado a recolher os dados biométricos e os dados hospitalares dos doentes, completa a oferta.

Em declarações ao Saúde Online, Teresa Magalhães, a nova Presidente da Comissão Executiva, revelou que a orientação estratégica da nova administração passa pela criação do maior centro de referência da Península Ibérica na área da cardiologia, sem descurar as outras áreas de intervenção médica especializada que o HCV atualmente disponibiliza.

Refira-se que o HCV é já reconhecido, pela Direção-Geral da Saúde, como centro de referência nas cardiopatias congénitas.

Para o novo alinhamento, foi estabelecida uma parceria de 10 anos com a Siemens Healthineers Portugal, subsidiária da multinacional homónima líder mundial em tecnologias aplicadas à Saúde, que irá equipar o novo centro de cardiologia do HCV com tecnologia de última geração, para prevenção, intervenção e acompanhamento de doentes, quer em internamento, quer em ambulatório. E garantir a atualização de todo o sistema, ao longo dos 10 anos em que irá vigorar a parceria, que se traduz num investimento de cerca de 10 milhões de euros.

Dra. Teresa Magalhão, Presidente da Comissão Executiva do HCV

Dra. Teresa Magalhão, Presidente da Comissão Executiva do HCV

Ao Saúde Online, Teresa Magalhães justificou a aposta na área das doenças cardiovasculares, como “resposta natural a necessidades expressas no Plano Nacional de Saúde no qual a doença cardiovascular é apontada como um flagelo, responsável por elevada taxas de mortalidade (30% do total dos óbitos)”.

A nova CEO do HCV salienta que para além de Portugal, o HCV atua na área da cirurgia cardiotorácica em Angola, onde dispõe de uma equipa médica residente, na clínica Girassol, em Luanda.

Ainda sobre as razões da nova aposta, que passará pela remodelação de dois pisos do Hospital de Benfica que ficarão na sua totalidade afetos ao Heart Center, Teresa Magalhães justifica-a com a pouca atenção que é hoje prestada à patologia cardiovascular, particularmente à insuficiência cardíaca, em Portugal. Um descaso explicado pela CEO do HCV com a aparente reduzida perceção do impacto social deste grupo de doenças. “No caso das doenças cardiovasculares, a pessoa morre e as pessoas esquecem e não valorizam. Ora, a verdade é que, por exemplo no enfarte do miocárdio, se a pessoa não morre fica muitas vezes com uma doença associada: a insuficiência cardíaca. Esta área representa hoje, a nível de impacto, um peso enorme”, explica Teresa Magalhães, que acrescenta: “trata-se de um novo degrau; de um novo enquadramento na abordagem da doença cardiovascular, que abrange desde a prevenção até ao diagnóstico e tratamento e, também, a reabilitação; um projeto que centra a nossa atividade no doente”.

“Estamos a colocar no terreno várias estratégias, em conjunto com a Cruz Vermelha nacional, que dispõe atualmente de cerca de 170 delegações disseminadas por todo o país. O nosso projeto passará por envolver esta rede na prevenção, tanto nas escolas como em rastreios diretos na população. Iniciámos a 29 de novembro um projeto-piloto nesta área, na delegação da Costa do Estoril, em parceria com a Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha.

Novas abordagens, menos invasivas

Dr. Luís Baquero

Dr. Luís Baquero

O novo Heart Center do Hospital da Cruz Vermelha irá apostar, sempre que possível, “em intervenções minimamente invasivas, particularmente na abordagem da patologia estrutural, onde se inserem as válvulas e os dispositivos intracardíacos”, área que tem registado avanços muito relevantes na última década. “Tem avançado imenso, particularmente na doença estrutural e gera um mercado importante de possibilidades de tratamento. Por outro lado, a cirurgia cardíaca tem evoluído, e é agora uma cirurgia menos invasiva. Em Portugal, não tem tido ainda grande impacto mas aqui no hospital pratica-se com bons resultados. Um dos pilares da unidade do Heart Center do HCV é a unificação de esforços, quer da cardiologia quer da cirurgia cardíaca em prol do doente. Ou seja, abordar o doente de uma forma menos invasiva mas mais completa. É esse paradigma que já mudou em muitos países mais avançados (como a Alemanha e Estados Unidos) e que em Portugal ainda dá os primeiros passos”, explica Luís Baquero, Coordenador do projecto Heart Center, que integra também o cardiologista Vasco Gama Ribeiro que nos últimos 28 anos dirigiu o Departamento de Cardiologia do Centro Hospitalar de Gaia/Espinho, onde se destacou por introduzir técnicas inovadoras a nível mundial no tratamento de doenças do coração, como o implante percutâneo da válvula aórtica – de que foi pioneiro em Portugal – um procedimento inovador de intervenção cardíaca, que permite tratar, com sucesso, doentes com estenose aórtica grave em idade avançada que não têm a possibilidade de efetuar a cirurgia convencional.

Outra novidade é a política de transparência que irá ser adotada, que prevê, entre outras medidas, a disponibilização, na página na internet da Instituição, dos resultados globais do Heart Center, estando ainda em estudo um follow-up de cada elemento que faz cirurgia e tornar públicos os resultados das complicações, à semelhança do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos da América. Isto porque, explica o especialista, “Não interessa dizer que fiz mil cirurgias, o que interessa é saber quantas pessoas morreram e saber, das que morreram, qual era o risco de morte associado. Essa comparação tem de ser transparente”, conclui.

 

Miguel Múrias Mauritti 

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