VIH. “Precisamos de contornar o estigma em Portugal”
À Saúde Notícias, o diretor executivo do Grupo de Ativistas em Tratamentos, Ricardo Fernandes, sublinhou a importância de se contornar a discriminação dirigida às pessoas infetadas com VIH e revelou a necessidade de se promover uma estratégia nacional de prevenção contra a infeção.
“Precisamos de contornar o estigma em Portugal”, começou por alertar, em entrevista à Saúde Notícias, o diretor executivo do Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), Ricardo Fernandes, quando questionado sobre a influência da discriminação no diagnóstico e tratamento da infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH).
“O estigma é considerado pela Onusida e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais barreiras a todo o rastreio, o diagnóstico, a ligação aos cuidados de saúde, ao tratamento e à manutenção desse tratamento”, comentou. “Nós sabemos que, hoje em dia, há muitas pessoas que não se testam por causa do estigma”.
De acordo com a sua experiência, Ricardo Fernandes revela que o problema associado à discriminação das pessoas que poderão estar infetadas com o VIH conduz à criação de “um medo muito grande de irem fazer o teste”, o que prejudica o possível diagnóstico e o tratamento essencial para controlar a infeção e diminuir a carga viral.
Ao relembrar um concurso público que impedia a candidaturas de pessoas com VIH, este reforçou que ainda existe “um grande desconhecimento daquilo que é uma pessoa com VIH hoje em dia”. “Uma pessoa com a infeção tem uma vida normalíssima e pode exercer qualquer função”, reforçou. Estas pessoas “têm a sua vida, têm o seu trabalho, têm filhos, parceiros e, portanto, não têm qualquer tipo de limitação na sua vida”.
“A ciência avança, mas o Estado, as regras e as leis parecem que ficam para trás” e “enquanto não resolvermos este problema, teremos o trabalho muito mais dificultado para chegarmos às populações que precisamos de chegar”. De acordo com o diretor executivo do grupo, “há falta de alguma awareness, alguma consciencialização, de que o VIH ainda é um problema em Portugal”.
Ainda assim, além de frisar a necessidade de oferta de informação para a população em geral, Ricardo Fernandes reforça a necessidade de “atividades dirigidas” às populações que se infetam “com a maior rapidez”. “Não temos intervenções feitas específicas” junto destas pessoas, revelou.
“Precisamos de uma estratégia, de um documento que nos diga quais são as prioridades, como é que elas vão ser operacionalizadas e quais são os recursos que estão alocados a esta estratégia”. Neste sentido, de acordo com a sua experiência no GAT, este reforça a necessidade de se observar um investimento na construção de um “programa de prevenção em Portugal”.
“Acreditamos em intervenções biomédicas” e, assim, segundo revela, faz sentido continuar “a batalhar na utilização correta do preservativo”. “É uma vergonha Portugal, por exemplo, não disponibilizar, de forma acessível, preservativos na comunidade escolar”.
“Aquilo que são as boas recomendações internacionais dizem que o preservativo deve estar acessível com o mínimo de intermediários possível e, neste momento, esse não está disponível nesta situação”. “Na nossa comunidade, achamos que o preservativo pode ser ainda melhor distribuído junto dos grupos que mais dele necessitam”.
“Deveria existir uma estratégia nacional de distribuição de preservativos, que incluísse a sua oferta junto das comunidades mais vulneráveis”, que, segundo menciona, são os homens que se envolvem sexualmente com outros homens, os trabalhadores sexuais, as pessoas transsexuais, as que consomem drogas os migrantes.
“É preciso ir onde as pessoas estão, onde convivem e entregar os preservativos. Entregar em quantidade, porque não podemos ter restrições a esse nível”, revelou, reforçando que as associações não têm financiamento suficiente para fazer esta distribuição e que “ter preservativos disponíveis nos nossos serviços e instalações nunca será suficiente”.
LF
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