20 Set, 2023

Vício da raspadinha combate-se com mais literacia e condições de vida dignas, segundo o SICAD

As pessoas com mais baixos rendimentos e com menos escolaridade são as que mais têm o vício da raspadinha, de acordo com um estudo da Universidade do Minho.

“Medidas no sentido de dificuldade de acesso por via de proibições ou condicionamentos não me parece que seja a grande via. É muito mais através da informação, fazer as pessoas perceber que de facto aquela não pode ser a resposta mágica aos seus problemas económicos, alguma literacia em torno do que é a teoria das probabilidades para levar as pessoas a pensar duas vezes. Penso que é muito mais pela educação e por facultar às pessoas condições de vida mais dignas, em que não haja esta cenourinha permanentemente a ser acenada”, disse João Goulão, diretor do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), à Lusa, em reação a um estudo divulgado sobre a dependência da raspadinha.

Mulheres, pessoas com baixos rendimentos e com escolaridade baixa são quem mais aposta em “raspadinhas”, um “vício” que atinge cerca de 100 mil adultos em Portugal, dos quais cerca de 30 mil apresentam perturbação de jogo patológico. O retrato é traçado no estudo nacional “Quem paga a raspadinha?”, realizado pela Universidade do Minho para o Conselho Económico e Social (CES), que foi divulgado em Lisboa.

Segundo o estudo, que validou 2.554 entrevistas, “o consumo frequente de raspadinhas é mais comum nas pessoas com baixos rendimentos”, precisando que é três vezes mais frequente numa pessoa com rendimentos entre os 400 e os 664 euros por mês do que nas pessoas com mais de 1.500 mensais. Para João Goulão, o perfil traçado no estudo “é consistente” com os dados já disponíveis e a informação divulgada “aponta para a necessidade de alguma intervenção”, demonstrando que já existe “um número significativo de pessoas com patologia ligada ao jogo”.

Depois de a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Ana Jorge, ter manifestado disponibilidade para encontrar respostas para combater o fenómeno e admitido que faz sentido reforçar a relação com o SICAD nesta matéria, João Goulão disse à Lusa que os contactos que existem atualmente são a nível informal, mas defende que seria útil “ter uma relação mais institucional com a SCML” e outras entidades com interesse no jogo, que permitisse “a construção e a execução conjunta de planos estratégicos e planos de ação”.

João Goulão recordou que a extinção do antigo IDT (Instituto da Droga e da Toxicodependência) e a sua substituição pelo SICAD retirou capacidade de intervenção nesta área e manifestou uma “expectativa elevada” em relação ao já aprovado ICAD, em que se volta a ter no mesmo organismo “capacidade de pensar as políticas e de as executar no terreno com meios próprios”. “Há um pacote legislativo cuja publicação se aguarda e que esperamos dar também um elã renovado à intervenção nesta área. [Com a extinção do IDT] houve uma série de entropias que foram introduzidas no sistema e que finalmente foram reconhecidas e daí a decisão de reconstituir um organismo único, um instituto público com uma capacidade de intervenção próxima do antigo IDT”, disse.

LUSA

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