Sustentabilidade em Medicina
Alberto Mota, dermatologista da ULS São João, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e vice-presidente da SPDV, é um dos moderadores da Conferência Sustentabilidade em Medicina, que será proferida por Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos. O dermatologista fala sobre o tema.
Qual a importância de se abordar o tema da Sustentabilidade em Medicina neste congresso?
A nossa especialidade tem observado nos últimos anos um progresso terapêutico de relevo, com abordagens cada vez mais específicas e eficientes, como poderemos testemunhar neste congresso com a apresentação de trabalhos científicos e simpósios que abordam esta temática. Como estes tratamentos são habitualmente muito mais caros e os recursos financeiros do principal financiador, que é o Estado, são sempre limitados, o mesmo financiador que tenta, por sua vez, assegurar uma maior universalidade de acesso aos cuidados de saúde, incluindo os dermatológicos, a Dermatologia não escapa à discussão de matérias de índole farmacoeconómica, até porque os dermatologistas desejam, naturalmente, que o sistema seja sustentável para poder assegurar equidade de acesso e possibilitar tratar os doentes com o melhor e mais adequado tratamento.
Quais pensa ser os maiores desafios que os dermatologistas e instituições de saúde enfrentam ao tentar implementar iniciativas sustentáveis, no que respeita aos tratamentos de Dermatologia, e como podem ser superados?
Como outras especialidades, os dermatologistas enfrentam diversos crivos na prescrição deste tipo de tratamentos, que não é, por assim dizer, livre, porque o financiador tenta travar o aumento dos gastos em saúde. Isso, por sua vez, pode implicar assimetrias na facilidade de acesso dos doentes a um mesmo tratamento, fazendo-o depender do contexto em que o doente é seguido (ex: público vs privado) ou até do subsistema de saúde em que se pode inscrever. Quanto à superação destes problemas, bom, estaremos atentos ao que os especialistas e que refletem sobre estas matérias nos podem elucidar neste congresso. Contudo, a possível entrada de outros financiadores destes tratamentos que não o Estado, as aquisições em conjunto por vários países com idêntico mercado (o Português é pequeno, pouco atrativo para as companhias farmacêuticas e com poder de negociação muito mais limitado), o financiamento de acordo com a eficiência dos tratamentos em contexto de vida real, poderão ser alguns dos aspetos que contribuam para o achatamento ou inversão da curva ascendente de gastos.
Considera que estas questões da sustentabilidade podem influenciar o futuro dos tratamentos dermatológicos, incluindo o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, entre outros?
Estou em crer que não. Não só as pessoas e, por conseguinte os doentes, estão cada vez mais bem informados sobre assuntos relacionados com a saúde, como cada vez mais exigem que as suas necessidades não satisfeitas sejam colmatadas, o que estimula o desenvolvimento de novas e mais completas abordagens da doença. Assim, estarão dispostos e compreenderão melhor que o(s) financiador(es) invistam mais, se tal se traduzir em mais ganhos em saúde, nomeadamente, em mais anos de vida com qualidade. Por sua vez, o(s) financiador(es) estará(ão) cada vez mais apto(s) e competente(s) em encontrar o sábio equilíbrio financeiro, sem colocar em causa o justo acesso dos doentes ao tratamento de que necessitam.
Sílvia Malheiro
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