A Dermatologia do futuro: inovação, tecnologia e medicina personalizada
“La Dermatologia del futuro: innovation, tecnologia y medicina personalizada” é o tema da conferência que será apresentada por Julián Conejo-Mir, diretor do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Virgen del Rocío de Sevilha, um tema de extrema relevância, mas é, segundo António Massa, dermatologista na Clínica Dermatológica Dr. António Massa, “muito desafiante de abordar”, dada a rapidez vertiginosa com que a inovação se desenvolve neste setor.
Com a multiplicação de startups e grandes empresas dedicadas ao desenvolvimento de tecnologias médicas, António Massa salienta que a dificuldade de prever o futuro é cada vez maior. “As tecnologias mudam a um ritmo acelerado”, refere, e isso faz com que muitos equipamentos adquiridos, fiquem obsoletos antes de serem totalmente aproveitados. Um ciclo de inovação que, segundo António Massa, acarreta uma insegurança no investimento, não só do ponto de vista técnico, mas também financeiro.
Para enfrentar este problema, uma solução prática apontada por António Massa é a “cooperação entre médicos”, uma vez que o custo elevado dos dispositivos pode ser mais facilmente repartido, se os profissionais se unirem para a aquisição e uso partilhado destes recursos. Lembra o caso dos colegas espanhóis, que implementaram este modelo com lasers que a cada semana estavam num consultório, garantindo assim uma divisão de custos que viabiliza o uso de tecnologias mais avançadas. Além disso, esta abordagem permite maior acesso a tecnologias de ponta.
A “realidade” do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é outro ponto de preocupação. Segundo o dermatologista, o SNS enfrenta dificuldades para reter profissionais, especialmente face à concorrência dos hospitais privados, que oferecem condições mais atrativas, uma situação que gera “desenquadramentos” e até alguma insegurança para os médicos, com maior dificuldade em regressar ao anterior local de trabalho.
Apesar desta ser uma questão relevante no contexto nacional, António Massa também aponta a escassez global de dermatologistas, principalmente em países africanos, como a Tanzânia, onde existem apenas 42 dermatologistas para uma população de 72 milhões de pessoas. “Há muitos sítios onde se pode trabalhar”, afirma.
No que toca à medicina personalizada, o médico vê-a como uma evolução necessária, mas salienta que ainda há muito a fazer para adaptar os tratamentos às especificidades de cada doente. Este tipo de abordagem permite escolher medicamentos e procedimentos, que melhor atendam às características de cada pessoa, mas “é um processo longo e ainda pouco avançado,” comenta.
Outro fator de mudança abordado por António Massa é a inteligência artificial, cujo potencial de apoio ao diagnóstico é inegável, especialmente em áreas como o reconhecimento de imagens. No entanto, o especialista sublinha que, embora a IA facilite tarefas e possa contribuir para o diagnóstico, a presença do doente em consulta continua a ser essencial em Dermatologia. “O contacto é importante, pois são as lesões que o doente não menciona que revelam problemas mais graves, como carcinomas”, explica, defendendo que a avaliação global do doente não pode ser substituída.
A Dermatologia, assim como outras áreas da medicina, enfrenta desafios perante a evolução tecnológica. Para António Massa, congressos como este são essenciais para partilhar e debater avanços. “A inovação é constante e uma grande parte dos medicamentos que utilizamos já foram desenvolvidos para outras especialidades, sendo o que se considera utilização off-label, ou seja, são como que efeitos secundários de medicamentos visíveis a nível de pele ou cabelo e que a sua utilização resolve problemas dependentes ou melhoria notória duma situação e com valores económicos mais interessantes, pois já estão muitos deles fora do prazo de duração da patente”, conclui.
Sílvia Malheiro
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