7 Mai, 2020

Sindicatos alertam que regime de proteção excecional exclui médicos

Os sindicatos médicos dizem que foram “discriminados negativamente” no regime excecional de proteção de imunodeprimidos e doentes crónicos.

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional do Médicos (FNAM) foram ouvidos hoje numa audiência conjunta na Comissão Parlamentar de Saúde sobre o “contributo que os sindicatos médicos poderão dar ao combate do coronavírus e também outros assuntos de importância para fortalecer o SNS”.

No final da audiência, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, e o presidente da FNAM, Noel carrilho, disseram que alertaram os deputados para a discriminação os profissionais de saúde estão a ser alvo no decreto-lei 20/20 que “Altera as medidas excecionais e temporárias relativas à pandemia da doença covid-19”.

Segundo Roque da Cunha, o regime excecional de proteção de imunodeprimidos e doentes crónicos está vedado aos médicos, enfermeiros, forças de segurança e bombeiros, o que considerou “uma discriminação lamentável”.

Noel Carrilho lamentou, por seu turno, que não se aplique aos “profissionais que estão na linha de frente do combate à covid” o que “está definido para todos os outros portugueses que poderão ser protegidos dessa infeção se tiverem critérios de gravidade, nomeadamente de saúde”.

 

“É uma despersonalização que não podemos aceitar”

 

“Esses profissionais estão excluídos”, disse o presidente da FNAM, considerando: “é uma despersonalização que nós não podemos, nem como médicos, nem como trabalhadores, aceitar”.

Os dirigentes sindicais tinham solicitado a audiência ao parlamento em março e saudaram a Comissão de Saúde por os terem chamado no primeiro ato que tiveram após a situação de emergência, o que, afirmaram, contrasta com “a atitude da ministra da Saúde que teima em não falar” com os sindicatos e não querer a ouvir a opinião de pessoas que estão no terreno.

“Eu trabalho num centro de saúde, o doutor Noel trabalha no Hospital de Viseu e chamamos a atenção para vários aspetos que nos parecem de relevo em relação à pandemia”, disse Roque da Cunha, apontando como exemplo a “discriminação dos médicos” relativamente aos testes à covid-19.

Para os fazerem, têm de apresentar sintomas ou ter contactado com uma pessoa infetada, criticou.

Roque da Cunha alertou ainda para a necessidade do reforço dos equipamentos de proteção num momento em que as medidas de confinamento estão a ser levantadas e que vai haver um aumento de pessoas infetadas, como já se verificou hoje.

Deu o exemplo do seu centro de saúde, que, na quinta-feira, só terá material de proteção individual para os enfermeiros que vão fazer os domicílios.

 

Falta equipamento de proteção um pouco por todo o país, diz Roque da Cunha

 

“No Hospital do Litoral Alentejano, um pouco por todo o país, continua a haver a falta de equipamentos de proteção. Se não fossem as autarquias, a sociedade civil, então era muito mais grave”, salientou o presidente do SIM.

Os sindicatos voltaram a alertar para a falta de investimento crónico no SNS, defendendo a necessidade de investir nos médicos, nos enfermeiros, nos auxiliares, nos funcionários e nas infraestruturas, porque só dessa maneira “se consegue captar médicos”.

“Não adianta falar na contratação de 100 médicos quando nós sabemos que se reformaram 300 e que nos próximos três anos vão reformaram-se 1.200 médicos de família e 1.500 médicos hospitalares”, disse Roque da Cunha.

Para os sindicatos médicos, é fundamental que esse investimento ocorra agora na retoma da atividade do SNS.

“Agora é que o Serviço Nacional de Saúde vai ser testado no seu limite porque uma coisa é tratar só covid, outra coisa é tratar todos os doentes e tentar recuperar todo o atraso que se criou” e que já existia, disse Noel Carrilho.

“Estamos a falar de uma circunstância de stress para o SNS muito gravosa e também não podemos manter os médicos nessa situação de não terem férias, nem limite de horas extraordinárias, não se pode fazer um sprint no tempo de uma maratona”, rematou.

O SIM defendeu ainda a criação de uma Comissão Independente, que pode não ter a participação dos sindicatos, para avaliar a forma como “o Ministério da Saúde e os seus conselheiros lidaram” com a pandemia covid-19.

SO/LUSA

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