22 Out, 2020

Projeto quer combater burnout em alunos de medicina e medicina dentária

Quase metade destes alunos sofre de burnout, alerta investigadora da FMUC. Projeto "COMBURNOUT" vai testar intervenção baseada na promoção de competências emocionais.

Uma equipa da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) está a desenvolver um projeto de investigação que pretende reduzir o burnout nos estudantes de medicina e medicina dentária, através da autocompaixão.

O projeto “COMBURNOUT”, financiado com 30 mil euros pelo programa “Academias do Conhecimento” da Fundação Calouste Gulbenkian, resulta da verificação, através da investigação e do contacto com os estudantes, de “que os alunos de medicina e de medicina dentária têm níveis elevados de stress, ansiedade e depressão“.

Quem o diz é a líder da equipa, Ana Telma Pereira, citada em comunicado. Segundo a psicóloga e investigadora do Instituto de Psicologia Médica da FMUC, “certos traços de personalidade, ou seja, da sua maneira típica de pensar, sentir e comportar-se, são mais prevalentes nestes estudantes, como o neuroticismo e, principalmente, o perfecionismo. Esses são fatores de risco para o sofrimento psicológico, pois diminuem as competências emocionais para lidar com o stress».

Quase metade destes estudantes sofre de burnout – significativamente mais do que os estudantes de outras áreas”, lamenta a responsável. Como variáveis que contribuem para este cenário, a investigadora aponta para “o ambiente competitivo, a elevada carga horária e a grande quantidade de avaliações e de matérias“, que ocorrem muitas vezes em simultâneo no contexto académico em medicina e medicina dentária.

Como explica a psicóloga, os investigadores estão conscientes de que “devido ao estigma, à vergonha e ao próprio perfecionismo, a maioria dos estudantes não procura ajuda“. Por esse motivo, o “problema tende a piorar ao longo da formação e carreira médica“, com consequências “graves” do burnout, como a depressão, a ideação suicida, o uso e abuso de álcool e de outras substâncias psicoativas. “Este estado de exaustão e desânimo que pode levar os estudantes a negligenciar a sua saúde e a dos outros“, aumentando a probabilidade de erros e de negligência médica, alerta.

Assim, o projeto “COMBURNOUT” está organizado em duas fases. Na primeira, a equipa vai identificar os estudantes em risco para, depois, implementar um programa de intervenção em grupo (maioritariamente em formato online), focado na promoção de competências emocionais, como o mindfulness e a autocompaixão – abordagens terapêuticas que ensinam as pessoas a autorregularem os seus pensamentos e emoções, com benefícios cientificamente comprovados.

Na segunda fase do projeto, vai ser realizado um estudo experimental para testar a eficácia desta intervenção, tendo como objetivo final a disponibilização de um programa de intervenção totalmente manualizado e com evidências de impacto positivo na redução do burnout e perturbação psicológica em estudantes de medicina e medicina dentária.

“Estamos confiantes porque já comprovámos, com estudos recentes, que se fomentarmos a autocompaixão podemos atenuar o stress e o sofrimento psicológico potenciados pelo perfecionismo. A autocompaixão pode ser um antídoto para este veneno”, afirma a coordenadora do “COMBURNOUT”.

A equipa é constituída essencialmente por psicólogas com formação e experiência em intervenções deste tipo, e por jovens médicos, que são internos de psiquiatria no CHUC e assistentes na FMUC.

O programa “Academias do Conhecimento” da Fundação Calouste Gulbenkian, criado em 2018, destina-se a apoiar projetos que apostem na promoção de “competências para que as crianças e jovens de hoje sejam capazes de enfrentar um futuro em rápida mudança”.

Comunicado/SO

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