Padrões divergentes de atrofia na ressonância magnética entre doença de Alzheimer e tauopatia primária relacionada com a idade
Miguel Quintas Neves, médico especialista do serviço de Neurorradiologia do Hospital de Braga, foi o primeiro português distinguido pela Sociedade Europeia de Neurorradiologia (ESNR), com o prémio europeu de melhor trabalho científico do ano na área da Neurorradiologia, em Viena de Áustria. No âmbito do seu trabalho intitulado, “Divergent magnetic resonance imaging atrophy patterns in Alzheimer’s disease and primary age-related tauopathy”, que foi desenvolvido no âmbito da sua tese de doutoramento.

Padrões divergentes de atrofia na ressonância magnética entre doença de Alzheimer e tauopatia primária relacionada com a idade

A tauopatia primária relacionada com a idade (acrónimo PART) é uma condição neuropatológica originalmente proposta por John F. Crary, neuropatologista no Hospital Mount Sinai em Nova Iorque, há cerca de 9 anos, após identificar deposição de tranças neurofibrilares (agregados de proteína tau) em cérebros (post mortem) de idosos, estruturalmente semelhantes às observadas na doença de Alzheimer (DA), mas sem concomitante deposição de placas β-amiloide (critério necessário para diagnóstico de DA). Desde então, tem havido um intenso debate acerca do enquadramento desta condição em relação à DA, com alguns autores a defenderem que se trata de um estadio pré-Alzheimer e não de uma condição independente.

O nosso trabalho comparou aspetos de ressonância magnética (RM) cerebral com características neuropatológicas, em doentes com PART e AD, e avaliou a relação entre os padrões de atrofia cerebral e os distúrbios cognitivos que se desenvolvem. Para tal, recorremos à base de dados norte-americana (NACC) que reúne doentes com DA e outros distúrbios cognitivos, previamente seguidos longitudinalmente em centros especializados, tendo incluído casos com diagnóstico neuropatológico definitivo (post mortem) de PART e AD.

Tendo por base estes diagnósticos, analisámos retrospetivamente as RM cerebrais realizadas até um máximo de 4 anos antes da morte, na procura de padrões específicos de atrofia, tendo depois pesquisado diferenças entre grupos (nos padrões de atrofia) e potenciais associações com o tipo de disfunção cognitiva.

Obtivemos 2 principais resultados: (1) os padrões de atrofia entre doentes com PART e AD parecem ser distintos, com a PART a assemelhar-se mais a estádio moderado de AD do que a estádio antecedente a AD ligeiro (o que seria expectável se se tratasse de um estádio pré-Alzheimer) e (2) enquanto em doentes com AD se verificam correlações significativas entre os padrões de atrofia nas várias regiões cerebrais avaliadas e os diferentes tipos de disfunção cognitiva, na PART há dissociação global entre a atrofia cerebral e a disfunção cognitiva (com exceção da estabelecida entre a linguagem e a atrofia temporal anterior).

Estes resultados suportam a hipótese de que se trata de duas condições distintas, abrindo horizontes para futuras ferramentas diagnósticas e, potencialmente, terapêuticas.

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