26 Set, 2018

O misterioso Linfoma de Hodgkin [entrevista à investigadora Isabel Barbosa]

No âmbito do Dia Mundial de Consciencialização sobre Linfomas, falámos com a investigadora Isabel Barbosa, sobre o raro Linfoma de Hodgkin, que representa apenas 10% de linfomas e afeta maioritariamente adultos jovens.

Saúde Online | O que é o Linfoma de Hodgkin?

Dra. Isabel Barbosa | O Linfoma de Hodgkin é um tipo raro de linfoma. Os linfomas são tumores que se desenvolvem nos linfócitos, que são os glóbulos brancos do nosso sistema imunológico e que se vão acumular nos gânglios linfáticos. No caso deste linfoma, existem umas células características que se chamam Células de Reed-Sternberg, que não aparecem nos outros linfomas.

Qual é a prevalência deste tipo de cancro?

IB | Há cerca de dois mil novos casos de linfomas no total. E cerca de 10% são linfomas de Hodgkin diagnosticados por ano, em Portugal. Algumas estimativas apontam para 260 casos, um pouco mais de 10%.

Quais são os sintomas mais comuns neste cancro?

IB | O aumento dos gânglios, que pode até não ser o primeiro sintoma. Também a febre, suores noturnos, fadiga severa, cansaço, lesões na pele, comichões. Mas estes sintomas podem aparecer em infeções virais. Portanto, o que é mais comum, é mesmo o aumento dos gânglios no pescoço, nas axilas e nas virilhas.

Esse é o fator diferenciador?

IB | Nem sempre um gânglio aumentado é sintoma de linfoma. Só depois de uma consulta médica e de exames complementares é que se pode chegar à conclusão de que é um linfoma.

Dra. Isabel Barbosa, presidente da Associação Portuguesa de Leucemias e Linfomas

Há alguma parte do corpo, de entre aquelas que referiu, em que seja mais comum o inchaço dos gânglios?

IB | Pode ocorrer em qualquer das partes e é mais comum no pescoço. Ou pelo menos é essa zona que as pessoas notam mais.

Há alguma explicação para o facto de este cancro ser mais comum nos adultos jovens?

IB | Ainda não há explicação. Sabemos que há um pico de casos entre os 20 e os 25 anos, e que é mais comum no sexo masculino. Em relação às causas, elas não são conhecidas.

Não existe, então, nenhuma causa determinante para o aparecimento deste linfoma?

IB | A idade e o sexo são fatores determinantes. Os linfomas aparecem com mais frequência nas pessoas mais velhas, porque estas vivem cada vez mais. À medida que as pessoas vão envelhecendo, as doenças do sangue também aumentam porque a idade é um dos fatores que influenciam o aparecimento destas doenças.

Mas, no caso do linfoma de Hodgkin, falamos de pessoas jovens…

IB | Não é fácil de explicar ou saber a razão. Apesar de dizermos que há um pico de casos entre os 20 e os 25 anos, pode aparecer em qualquer idade.

Uma vez que se conhecem as causas, será também difícil dar conselhos para prevenir a doença.

IB | Aqui o importante é mesmo o diagnóstico precoce. Muitas vezes as pessoas têm alguns destes sintomas e não vão ao médico. Portanto, o diagnóstico atempado pode contribuir para uma melhor  resposta  ao tratamento.

Que outras doenças podem levar as pessoas a desvalorizarem os sintomas, nomeadamente o aumento dos gânglios?

IB | Por exemplo, quando tem uma gripe, ou outras infeções virais, por vezes, ocorre o aumento dos gânglios, principalmente no pescoço. Quando as pessoas não notam esse aumento, só quando aparecem outros sintomas, como perda de peso ou a fadiga, é que as pessoas vão ao médico.

A partir do momento em que vão ao médico, o diagnóstico é fácil?

IB | O diagnóstico envolve a realização de uma biópsia do gânglio, de uma biópsia da medula óssea e de alguns exames complementares. Com os resultados da biópsia da medula óssea e do gânglio, é possível chegar ao diagnóstico. Portanto, o doente é encaminhado para um serviço de onco-hematologia num centro hospitalar ou para um IPO e aí é que vai fazer o diagnóstico e o tratamento.

É comum este linfoma espalhar-se a outros órgãos?

IB | Pode espalhar-se numa fase mais tardia. Há diferentes estadiamentos, conforme os gânglios vão aparecendo em diferentes partes do corpo.

Qual é a taxa de sobrevivência atual?

IB | A taxa de sobrevivência tem vindo a melhorar com o aparecimento de novos tratamentos, essencialmente nos últimos dez anos, e é de mais de 80% – dependendo também do estadiamento, das condições do doente, do que tratamento que faça.

Quais são os tratamentos utilizados para combater o Linfoma de Hodgkin?

IB | Os tratamentos clássicos são a quimioterapia e radioterapia e, nalguns casos, há indicação para fazer transplante autólogo de medula óssea (actualmente denominado transplante hematopoiético, pois utilizam-se também células hematopoiéticas colhidas do sangue periférico). O transplante permite que o doente faça mais quimioterapia e que depois receba as suas próprias células hematopoiéticas no fim da quimioterapia para recuperar. Trata-se de um tratamento, com células do próprio doente.

A quimioterapia vai destruir todas as células, inclusivamente as células hematopoiéticas da medula óssea. Portanto, nós temos de as tirar, fazer a criopreservação e continuar com a quimioterapia, que vai destruir o resto das células malignas que existem. Quando já não há efeitos tóxicos da quimioterapia, as células são infundidas na pessoa. O transplante hematopoiético antólogo permite que se usa mais quimioterapia, uma quimioterapia mais forte, e que faz com o doente consiga recuperar porque vai receber as células da medula que foram congeladas.

Existem novos tratamento de imunoterapia que, ao contrário da quimioterapia (que destrói todas as células), destroem especificamente as células tumorais. Estes tratamentos de imunoterapia têm alguns efeitos adversos mas são mais específicos e destroem as células do linfoma.

Já foram feitos em Portugal?

IB | Há tratamentos com anticorpos monoclonais feitos em Portugal.

 

Saúde Online

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