“O grande desafio da Pediatria é a limitação de recursos, sobretudo a nível dos serviços de urgência”

O novo presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), André Mendes da Graça, fala dos objetivos da Direção para este novo mandato (2023/2025) e da Pediatria em geral. No seu entender, a limitação de recursos é, atualmente, o grande desafio da especialidade.

É o novo presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Quais são os principais objetivos para este mandato?

Os principais objetivos para este mandato são manter o apoio à formação de profissionais nas diferentes áreas pediátricas, assim como o apoio à investigação em temas pediátricos relevantes, promover uma colaboração estreita com entidades nacionais e internacionais relevantes para a saúde da criança e do adolescente e intervir junto da sociedade civil em temas relevantes para a saúde da criança.

A SPP tem estabelecido parcerias com outras sociedades/associações. Podemos esperar mais parcerias?

A SPP é uma associação de 19 sociedades científicas, a maioria das quais em áreas de subespecialidades pediátricas. Existem, no entanto, áreas de interesse para a Pediatria que não estão no domínio da SPP, por exemplo a Saúde Mental infantil e a Oftalmologia Pediátrica, entre outras. A interação mais próxima com estas sociedades será certamente uma realidade.

Relativamente à especialidade, quais os maiores desafios que a Pediatria enfrenta atualmente?

O grande desafio que a Pediatria enfrenta neste momento consiste numa limitação de recursos, sobretudo a nível dos serviços de urgência. Embora possa ser contraintuitivo, diria que a resolução do problema não passa apenas por uma tentativa de dotar os serviços de urgência de Pediatras em número suficiente para dar resposta a todas as solicitações. Penso que a criação de condições para que os pais possam não ter que recorrer permanentemente ao serviço de urgência, adequando a resposta a nível dos Centros de Saúde e da linha SNS24, aliados a iniciativas que promovam uma maior literacia dos pais em saúde infantil.

Defende-se muito a interligação com os cuidados de saúde primários. Também deveria ser na Pediatria?

O modelo existente no SNS passa pelo seguimento das crianças nos Centros de Saúde, ao contrário do que acontece noutros países da Europa. Essa solução tem todas as condições para funcionar, sobretudo se forem criadas condições para que todas as crianças tenham Médico de Família e reforçada a formação dos médicos de família na área da Saúde Infantil.

A idade pediátrica mantém-se até aos 18 anos. Deveria apostar-se mais em Consultas do Adolescente, inclusive nos cuidados de saúde primários?

O adolescente deve ser seguido nas mesmas condições das outras crianças, sendo também importante reforçar a formação dos Médicos de Família nas especificidades do seguimento do adolescente.

Relativamente a patologias, o que mais preocupa os pediatras?

Neste momento, preocupa-nos um pouco as consequências imprevisíveis do desconfinamento na dinâmica das infeções virais, assim como as infeções respiratórias do pequeno lactente, embora possa vir a haver proximamente boas notícias no campo da prevenção. Também nos preocupa o aumento dos problemas de aprendizagem e da saúde mental da criança e do adolescente, decorrentes dos anos de confinamento.

Nos próximos anos, o que podemos esperar da especialidade de Pediatria? Maior diferenciação?

A Pediatria, sendo uma área médica de grupo etário, é neste momento uma especialidade muitíssimo diferenciada. Ao contrário do que acontece nos adultos, todos os médicos que tratam áreas pediátricas muito específicas (como a Oncologia e a Neonatologia, entre muitas outras), começam por ser Pediatras gerais, antes de se diferenciarem nessas áreas. Este modelo origina um tempo muito longo de formação, mas não antevejo que um modelo de formação direta em áreas pediátricas específicas possa vir a existir num futuro próximo.

SO

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