Número de vagas e celeridade do concurso para recém-especialistas são positivos, diz sindicato

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) considera positivo o aumento do número de vagas e a celeridade do concurso para contratação de recém-especialistas, mas prevê que muitas dessas vagas fiquem por ocupar no Serviço Nacional de Saúde.

A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde autorizou a contratação de 991 médicos recém-especialistas, que concluíram o internato médico na época especial de 2023, para diferentes especialidades com apoio ao serviço de urgência. Comentando à agência Lusa este anúncio, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, realçou como positivo o facto de estas vagas acontecerem sem ter decorrido ainda um mês para serem postas a concurso. “No passado, muitos médicos trabalhavam como especialistas aguardando meses ou mesmo anos para que esses concursos abrissem”, salientou.

Para o dirigente sindical, também é positivo que se abram vagas “ao maior número possível de hospitais, mesmo sabendo que é superior ao número de médicos que concluíram agora a especialidade”. “São dois aspetos que nós entendemos como positivos. Aguardamos o concurso para os médicos de família e para as especialidades que não têm urgência que irá ser lançado pela ACSS [Administração Central do Sistema de Saúde]”.

Jorge Roque da Cunha manifestou, no entanto, preocupação com a “questão de fundo”, que se prende com a “tendência crescente de muitas dessas vagas ficarem por ocupar”. Lembrou que há dois anos, cerca de 20% das vagas de Medicina Geral e Familiar (MGF) ficaram por preencher, percentagem que aumentou para cerca de 35% em 2022. “Em termos hospitalares, há dois anos foi cerca de 40% e no ano passado foi cerca de 50% [as vagas que ficaram por ocupar]”, elucidou.

Para o líder do SIM, esta situação “representa a circunstância da pouca atratividade de trabalhar no Serviço Nacional de Saúde” e de “oito anos de incapacidade que o Governo demonstrou em criar condições salariais”. “Apesar do aumento intercalar que nós conseguimos, o problema de fundo continua, já que estamos muito longe de recuperar o poder de compra perdido nos últimos 10 anos”, vincou.

Roque da Cunha apontou ainda “a incapacidade de criar condições de trabalho por falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde”, que resulta em equipamentos obsoletos, “incapacidade de melhorar os sistemas informáticos”, as condições físicas de trabalho, ao que se junta “a cada vez maior pressão e carga de trabalho”. “Não é admissível cerca de seis milhões de horas extraordinárias efetuadas no ano passado”, salientou, acrescentando que esta realidade faz antever que, “infelizmente, muitas dessas vagas ficarão por ocupar”, o que confirma os alertas que o SIM tem vindo a fazer há vários anos.

O dirigente sindical disse esperar que “o próximo Governo invista verdadeiramente no Serviço Nacional de Saúde”, de forma a criar condições para que “os médicos fiquem, porque nem sequer está conseguir recuperar os médicos que saem por aposentação ou mesmo por rescisão”. “O ano passado foi o ano em que mais médicos rescindiram e, por isso, é positivo que o concurso seja célere (…), mas a questão de fundo mantém-se e infelizmente nós prevemos que muitas dessas vagas ficarão por ocupar”, concluiu.

LUSA

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