18 Set, 2024

“Não podemos aumentar a quantidade de atendimentos sem medir a saúde gerada”

Hugo Ribeiro, coordenador da comissão organizadora do Congresso Multidisciplinar da Dor, aproveitou a sessão de abertura para deixar uma reflexão relativamente ao “ónus na mudança”, mostrando-se “preocupado” com o presente e futuro da comunidade médica. A terceira edição do evento, que se realiza no Hotel Solverde Spa & Wellness Center, em São Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia, começou esta quinta-feira, dia 18, e termina na sexta-feira, dia 20. O evento conta com mais de 420 participantes.

De acordo com Hugo Ribeiro, “medir resultados com base no investimento é uma política básica de gestão”. Nesse sentido, “não podemos continuar a aumentar a quantidade de atendimentos sem medir a saúde que estamos a gerar”. “Precisamos de refletir sobre a qualidade da assistência que oferecemos e questionar o impacto real na saúde dos nossos doentes. Estamos realmente a promover uma melhoria significativa ou apenas a acumular números?”, questionou o médico.

Salientado que os médicos internos têm sido utilizados como “fonte de trabalho barata”, Hugo Ribeiro frisou que este facto não pode persistir, uma vez que estes profissionais “são a força motriz da Medicina”, correspondendo a cerca de 1/3 do Serviço Nacional de Saúde.

“Acredito que a atratividade do internato passa muito pela qualidade da formação que estamos dispostos a investir nos nossos colegas mais novos. Não podemos desvalorizar a formação contínua, sem a qual a nossa abordagem se torna obsoleta em poucos meses ou anos.”

Hugo Ribeiro defendeu que os médicos “devem ter o seu horário ajustado às suas múltiplas responsabilidades”, uma vez que devem “manter-se atualizados, formar os seus colegas mais novos, investigar e publicar os seus resultados”. “Para cumprir com estas necessidades, é essencial que seja alocado tempo específico, é essencial ser ajudado pelo sistema. (…) Só assim teremos futuro, progresso, e só assim conseguiremos que o SNS seja atrativo e competitivo com o mundo exterior”, rematou.

Relativamente ao tema central do congresso, Hugo Ribeiro destacou o quanto “ainda falta saber” sobre a abordagem do doente com dor. “Ainda temos de percorrer um longo caminho para que os doentes tenham uma abordagem individualizada, multidisciplinar e adequada às suas realidades e contextos.”

O médico aproveitou ainda a sua intervenção para informar que o trabalho desenvolvido em Cabo Verde despertou para a necessidade da criação de uma pós-graduação em Cuidados Paliativos na Universidade de Cabo Verde, em articulação com a Universidade de Coimbra, sob orientação de Marília Dourado, professora na FMUC e presidente da comissão científica do evento.

Além disso, em colaboração com a IM3M, será desenvolvido, já no próximo ano, um curso intensivo em Dor e Cuidados Paliativos em Luanda, Angola.

Mais se informou que na sessão de abertura do evento do próximo ano será formalizado o lançamento de um manual de abordagem ao doente com dor, em colaboração com a LIDEL.

À semelhança das anteriores edições, também nesta terceira foi escolhida uma figura influente que tenha impactado positivamente as áreas dos Cuidados Paliativos, Medicina da Dor e Geriatria. Nesse sentido, José Gomes Ermida, médico internista aposentado, foi homenageado durante a sessão. O clínico percorreu todos os patamares da carreira médica hospitalar nos hospitais da ULS de Coimbra.

 

CG

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