31 Out, 2023

MGF Journey. “Deve manter-se o investimento no internato médico como pilar essencial para o futuro da MGF”

Durante o dia de hoje decorrem as jornadas “MGF Journey 2.0 – Constrói o teu caminho”, em formato online, com a colaboração de vários médicos e especialistas da área de Medicina Geral e Familiar (MGF). O evento, conduzido pelo 56.º grupo de médicos internos de MGF do ACES Lisboa Ocidental e Oeiras, será centrado na prática do médico interno e especialista em MGF, como nos diz o diretor-executivo, Rafic Nordin.

Qual o papel dos MGF nos Cuidados Paliativos atualmente?

De acordo com o estipulado no Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos (PEDCP), os médicos de família (MF) deverão acompanhar os seus doentes, incluindo os doentes com as necessidades paliativas de complexidade baixa a intermédia. Para tal, deverão ter formação básica (no mínimo), para que consigam identificar e intervir nas necessidades paliativas dos seus doentes e famílias.

Quando as necessidades forem de complexidade elevada, o plano estratégico estipula que os doentes e suas famílias sejam acompanhados por equipas específicas de Cuidados Paliativos, seja comunitárias, hospitalares ou de unidades de Cuidados Paliativos (UCP). Para tal, os MF deverão estar atentos e aptos para a sua identificação e referenciação. Na intervenção comunitária, os MF com formação avançada em Cuidados Paliativos são os elementos mais habilitados para uma intervenção diferenciada. Perante tudo isto, será importante reforçar que o papel dos MF nos Cuidados Paliativos poderá estar em fase de revisão/transição, tendo em conta a incerteza que se vive, quer a nível do SNS quer a nível da organização dos Cuidados Paliativos.

O papel do MF nos Cuidados Paliativos é tão importante como todos os outros profissionais das equipas desde que tenham a capacitação específica. Uma resposta assistencial de qualidade é feita, seguramente, através da integração de cuidados e de uma cobertura à população de 24 horas. O processo em curso da reorganização dos cuidados de saúde no SNS, nomeadamente a formação das Unidades Locais de Saúde (ULS), poderá ir ao encontro das necessidades da população ao desenvolverem a integração dos diferentes níveis de prestação de cuidados, permitindo uma maior acessibilidade, uma flexibilidade organizacional e uma resposta integrada envolvendo as várias tipologias (hospital, cuidados de saúde primários, rede nacional de cuidados continuados integrados).

 

Que avaliação faz da prescrição social?

No ACES Lisboa Ocidental e Oeiras, a prescrição social corresponde à referenciação dos utentes que necessitam de apoio social, através do sistema informático (SClínico) feita pelos médicos de todas as unidades de saúde, e mesmo por outros profissionais. No seguimento desta referenciação interna, após a elaboração do diagnóstico social, as assistentes sociais articulam-se com as entidades que poderão dar a melhor resposta ao problema do utente.

“Não existe ninguém melhor do que a assistente social da área da saúde para procurar a melhor resposta que vá ao encontro das necessidades do utente e sua família, com reflexos e ganhos em saúde.”

Quais as principais diferenças da Medicina Geral e Familiar internacional em comparação com a realidade que temos em Portugal?

Depende do modelo ou do país com que fazemos a comparação. Porém, de uma forma geral, as diferenças não são significativas, até porque a estrutura dos cuidados de saúde primários e da formação que tem vindo a ser desenvolvida ao longo das ultimas décadas funciona em estreita relação com o que se faz na Europa. No entanto, realço algumas diferenças, designadamente o facto de os cuidados de saúde primários do SNS em Portugal serem totalmente públicos, e em alguns países não o são. Além disso, para o exercício do papel de MF nos cuidados de saúde primários em Portugal é imprescindível a formação como especialista de MGF, com um internato estruturado e muito bem organizado. Já em alguns países, os MF podem atuar na área da Saúde Pública sem formação específica.

“Embora o cerne da Medicina Geral e Familiar seja semelhante em todo o mundo, as especificidades da prática, formação e organização variam de acordo com as políticas de saúde, cultura e necessidades de cada país.”

Quais as competências e habilidades essenciais que qualquer médico de Medicina Geral e Familiar deve ter atualmente de modo a enriquecer a sua prática profissional?

Humanização, comunicação assertiva e centrada na pessoa, conhecimentos técnico-científicos abrangentes e cientificamente rigorosos, promoção da saúde e prevenção, cultura de segurança e melhoria continua da qualidade, atualização permanente, colaboração intra e interprofissional, resiliência e cultura do bem-estar, bem como a promoção de um ambiente de trabalho criativo, são e eficiente.

 

Na sua opinião, existem pontos a melhorar na Medicina Geral e Familiar em Portugal?

Sim, nomeadamente a redução de burocracias e tempos desperdiçados com tarefas que não contribuem para o exercício da nossa função como MF, melhorar a retribuição financeira pelo exercício das funções como MF, flexibilidade do horário de trabalho com respeito às necessidades da vida pessoal e familiar, a promoção de uma cultura de criatividade e melhoria da qualidade permanente. Destaco ainda que deve haver tempo exclusivo para investigação e estudo e deve ser feita uma evolução da monitorização dos indicadores, selecionando algoritmos que analisem ganhos em saúde e redução da morbilidade e mortalidade contextualizada às realidades de cada zona.

Também as condições físicas dos edifícios devem ser melhoradas, nomeadamente através de uma climatização adequada e ainda de equipamento que permita a realização de meios complementares de diagnóstico e terapêutica básicos. Acredito ainda que deve manter-se o investimento no internato médico como pilar essencial para o futuro da MGF e a aposta no modelo atual de USF. Destaco ainda a necessidade de melhorar o bem-estar das equipas.

 

CG

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