4 Dez, 2019

Mais quatro anos podem não chegar para dar médico de família a todos

Na zona de Lisboa, há centros de saúde onde metade dos utentes não têm médico atribuído. Nesta legislatura, as saídas para a reforma deverão superar as entradas de recém-formados.

O governo tinha-se comprometido em dar um médico de família a todos os portugueses até ao final da legislatura mas ficou longe desse objetivo. Em setembro, a um mês das legislativas que acabaram por ditar a recondução da ministra Marta Temido, ainda havia 600 mil pessoas nesta situação.

A ministra da saúde repete a promessa mas os números e as estimativas em relação à renovação do quadro de especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF) vão dificultar a meta do governo. O número de profissionais que vão atingir a idade da reforma (2000 médicos) nos próximos quatro anos é superior ao da formação de novos especialistas (1800).

O desequilíbrio entre entradas e saúde começou a ser sentido no ano passado mas agravou-se em 2019. Este ano, estão previstas 509 reformas de médicos de família com 66 ou mais anos, ou seja, 10% do total do contingente de clínicos de MGF. Contudo, segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde, 2021 será o ano mais crítico, com 522 profissionais em condições de pedirem para sair.

No entanto, é preciso ressalvar que os médicos podem exercer até aos 70 anos no SNS, pelo que não é certo que todos aqueles que atinjam a idade mínima da reforma apresentem o pedido de aposentação. Aliás, o gabinete de Marta Temido desvaloriza as estimativas e garante que ” em termos de aposentações de médicos especialistas em medicina geral e familiar não é de todo expectável que se verifique o total das aposentações previstas”.

Por mais médicos de família que se formem, nunca se chega a resolver o problema, que nesta altura está muito localizado, se não forem adotadas medidas políticas de carácter excecional”, alerta presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), em declarações ao Diário de Notícias. Se há zonas do país onde a cobertura é quase total (como a região Norte), noutras faltam médicos.

É o caso da Grande Lisboa (em especial, nas zonas de Sintra e Almada) e também no Algarve. No centro de saúde da Alameda, no centro de Lisboa, por exemplo, trabalham 14 médicos, insuficientes para dar resposta a todos 42 961 utentes. Metade não têm clínico atribuído e a situação tem vindo a agravar-se com a transferência de utentes de outras freguesias. Em Lagos, a carência de médicos deixa sem clínico quase um quatro dos 33.143 utentes inscritos.

TC/SO

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