Investigadores conseguem reverter resistência do bacilo da tuberculose à etionamida
Um grupo internacional de investigação, que incluiu investigadores da França, Suécia, Bélgica, Suíça e Coreia do Sul, anunciou a criação de uma molécula, a que designaram SMARt-420, que reverte a resistência antibiótica em Mycobacterium tuberculosis
Os resultados da investigação mostram que, em cobaias infetados por extirpes resistentes à etionamida, a administração da SMARt-420 em associação com o antibiótico promoveu uma redução significativa da carga bacteriana nos pulmões dos animais.
Recorde-se que a etionamida é um pró-fármaco, ou seja, para que ela desempenhe a função antituberculose, precisa ser inicialmente ativada por enzimas da própria M. tuberculosis, no caso, a EthA. No entanto, algumas extirpes do bacilo desenvolveram mutações no gene responsável pela produção dessa enzima, o que prejudica o processo de bioativação do composto e as torna resistentes ao mesmo.
A família de moléculas SMARt (acrônimo para Small Molecules Aborting Resistance, ou Pequenas Moléculas que Abortam Resistência) foi inicialmente desenvolvida para otimizar uma via específica de produção da enzima, segundo os coautores Alain Baulard, Nicolas Willand e Benoit Déprez. Em entrevista ao jornal especializado Medscape, os investigadores da Université Lille e do Institut Pasteur de Lille, na França, explicaram que durante este processo de otimização, foi observado que uma das moléculas, a SMARt-420, ativava um outro gene que controla uma via alternativa de ativação da EthA e também levava a uma bioativação efetiva da etionamida.
Ratinhos Swiss infetados por M. tuberculosis resistente ao medicamento foram então tratados com a combinação de etionamida e SMARt-420 (ambos a 50 mg/kg). Em três semanas, houve redução importante da carga bacteriana nos pulmões dos animais.
A SMARt-420 ainda está na fase de protótipo, estando os investigadores a trabalhar nas propriedades necessárias para que se posssa candidatar a fármaco, ou seja, potência, seletividade, segurança, biodisponibilidade e formulabilidade. “Quando estiver pronto para a avaliação reguladora de segurança, o fármaco candidato será administrado a humanos (fase 1),” afirmaram.
A detecção de resistência específica à etionamida geralmente não é feita rotineiramente. Mas, para os investigadores tal não representa um problema, pois tanto bactérias sensíveis quanto resistentes à etionamida são elegíveis para tratamento com a combinação SMARt-etionamida. “Todas as bactérias testadas neste estudo que são especificamente resistentes à etionamida têm-se revertido para sensíveis na presença de moléculas SMARt. O nosso objetivo é identificar uma dose da combinação SMARt+etionamida que, na clínica, será ativa contra todas as extirpes resistentes”, disseram os cientistas.
MMM