24 Set, 2024

HTA resistente. “A desnervação renal é um tratamento seguro e eficaz”

Manuel Almeida, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) fala sobre as guidelines apresentadas, recentemente, no ESC Congress 2024. O responsável destaca, em particular, as orientações sobre hipertensão resistente e desnervação renal.

Qual a prevalência da HTA?

É importante salientar que a hipertensão é dos problemas de saúde mais importantes a nível mundial. É a principal causa de doença cardiovascular a nível mundial. Estima-se que 1/3 da população adulta mundial é hipertensa, mas este valor tem aumentados nos últimos 30 anos, em virtude do envelhecimento da população. Acima dos 60 anos, 60% dos doentes são hipertensos, em virtude de serem mais obesos, mais sedentários e de sofrerem de outras doenças que favorecem a hipertensão. Em 2025, estima-se que a prevalência da HTA na população mundial aumente em 15 a 20%, atingindo mais de 1,5 mil milhões de seres humanos. Neste contexto, é admissível assumir que a HTA é a principal causa de mortalidade precoce a nível mundial e o principal problema de saúde a enfrentar pelas sociedades.

 

Quais as guidelines da ESC para a HTA resistente?

Em 2024, as novas orientações para o tratamento da HTA  da Sociedade Europeia de Cardiologia (2024) e da Sociedade Europeia de Hipertensão (2023) recomendam que a desnervação renal seja considerada nas seguintes situações: em doentes com HTA não controlada apesar de tomarem menos de três fármacos considerados adequados desde que tenham risco cardiovascular elevado e em doentes que têm HTA resistente à medicação, ou seja, que continuam com HTA não controlada apesar da toma de três a quatro fármacos em doses adequadas. Consideram também a desnervação nos doentes que não toleram os medicamentos para a HTA ou que por vontade própria preferem submeter-se a uma desnervação renal e não ter a necessidade de tomar medicamentos ou de tomar menos medicamentos. A Sociedade Europeia de Cardiologia e a de Hipertensão recomendam fortemente que este tratamento seja efetuado em centros com operadores com experiência no procedimento e após uma discussão esclarecedora envolvendo o doente, o operador e o médico que referenciou o doente, onde seja ponderado o balanço risco-benefício.

“Contrariamente aos medicamentos que tem de tomar todos os dias, a desnervação renal só se faz uma vez e funciona todo o dia e em todos os dias (conceito “always-on”)”

Qual a relevância da desnervação renal e que doentes podem ser selecionados?

A desnervação renal é um procedimento testado em múltiplos estudos clínicos, que se revelou um tratamento seguro e eficaz. Este tratamento não dispensa a medicação, funciona como complemento nos doentes que apesar de já medicados de forma considerada adequada, continuam com valores de tensão arterial muito elevada e com risco para a sua saúde. É um tratamento que, habitualmente, se faz uma só vez e com internamento de curta duração (tipicamente uma noite no hospital). Contrariamente aos medicamentos que tem de tomar todos os dias, a desnervação renal só se faz uma vez e funciona todo o dia e em todos os dias (conceito “always-on”).

 

Por quanto tempo é possível controlar a HTA com este tratamento?

Nos estudos realizados, a desnervação manteve o seu efeito durante pelo menos cinco anos, a duração máxima de seguimento dos ensaios clínicos que foram efetuados. Recentemente, foram publicados dados de registos clínicos que apontam para que o efeito da desnervação se mantenha até 10 anos.

 

Fala-se sempre da importância dos estilos de vida. Apesar deste tratamento, pressupõe-se que o doente não deixe de adotar hábitos saudáveis?

Uma vida saudável, com hábitos saudáveis, é um protetor de risco global que afeta favoravelmente não só a HTA, como o colesterol, a diabetes, a obesidade e a capacidade vital. Uma vida saudável favorece um bom envelhecimento, mantendo a sua vitalidade e reduzindo o risco de doenças ou limitações físicas e cognitivas. Não faz sentido pensar em tratamentos invasivos (cirurgia, “mini-cirurgia” ou por via percutânea como os cateterismos), ou na toma de medicamentos, como via para dispensar hábitos saudáveis. Se quisermos um envelhecimento saudável, temos de ter uma vida saudável (sempre).

A maioria dos seres humanos tem a capacidade inata de poder envelhecer e ter uma vida longa e saudável. A nossa obrigação, desde o nascimento, é preservar esta capacidade, procurando evitar, sempre que possível, agredir esta capacidade por stresses internos (emocional, dietéticos, tóxicos, etc.) ou externos (ruído, temperaturas extremas, poluição, etc.).

Muito importante, e acima de tudo, é evitar exposição crónica a estes fatores agressivos, levando ao esgotamento das nossas capacidades de adaptação e resiliência. Nenhum tratamento dispensa uma vida saudável.

 

MJG

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