30 Mar, 2022

Hospitais querem impedir acesso às urgências a doentes não referenciados

Afluência às urgências já ultrapassa níveis registados antes da pandemia. Responsáveis pedem "coragem" para impor regras que limitem o acesso.

Perante o regresso de níveis de afluência às urgências semelhantes ou até mesmo superiores, em alguns casos, aos valores que se registavam antes da pandemia, os responsáveis de dois grandes hospitais da região Norte sugerem que seja vedado o acesso à urgência a doentes pouco ou nada urgentes e não referenciados pelo INEM, linha SNS24 ou cuidados de saúde primários. A informação é avançada pelo Jornal de Notícias.

Esta segunda-feira (o dia da semana em que, tradicionalmente, mais portugueses recorrem às urgências) foi mais uma onde se registaram grandes níveis de afluência. No mesmo dia da semana passada, o serviço de Urgência do Hospital de São João tinha registado o número mais elevado de atendimentos (950) dos últimos 13 anos, cenário que se voltou a repetir esta semana, coma 981 pessoas atendidas, um número que só encontra paralelo em dezembro de 2008.

Quase 40% das situações foram triadas com pulseira azul ou verde, pelo que não se justificava a deslocação ao hospital nestes casos.

Por isso, o coordenador da Unidade de Medicina de Urgência e Medicina Intensiva do São João defende que “é imprescindível regular o acesso”. Nelson Pereira diz que essa seria uma medida a introduzir, integrada num plano de ação, que passaria por: aumentar a literacia em saúde junto da população, capacitar a rede de cuidados de saúde primários, melhorar a articulação com as especialidades hospitalares, aumentar o número de clínicas de diagnóstico e hospitais de dia para patologias específicas e apostar na qualificação dos recursos humanos nos serviços de urgência, nomeadamente no que se refere à criação da especialidade de medicina de urgência.

No Hospital de Gaia, não se via há cerca de 10 anos uma afluência tão grande ao serviço de urgência. Na passada segunda-feira, foram feitos 736 atendimentos nesta unidade hospitalar. O presidente do conselho de administração, Rui Guimarães, alerta que, desta forma, é “impossível gerir um serviço de urgência” e pede “regras para proteger quem realmente precisa” e “coragem” para legislar nesse sentido, limitando o acesso aos doentes graves e referenciados pelo INEM, linha SNS24 ou cuidados de saúde primários.

Já dados enviados à Lusa pelo Centro Hospitalar Universitário do Porto revelam que, entre 14 e 20 de março, deram entrada 2.425 doentes no Serviço de Urgência do hospital de Santo António, sendo que apenas 10% dos casos correspondiam a emergências e casos considerados muito urgentes (pulseira vermelha ou laranja). Em igual período do ano passado, o Santo António acolheu na urgência menos 632 doentes.

Também a Unidade Local de Saúde de Matosinhos registou, nas últimas três semanas, “um aumento significativo” na afluência ao Serviço de Urgência Geral, tendo ultrapassado os 300 utentes por dia.

“O Conselho de Administração decidiu na passada semana iniciar o projeto ‘SNS+Proximidade’. Ou seja, os utentes a quem é atribuída a [pulseira de] cor azul [não urgente], desde que inscritos no ACeS [Agrupamento de Centros de Saúde] de Matosinhos, são encaminhados para a consulta na sua Unidade de Saúde Familiar”.

SO/LUSA

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