Gestão dos profissionais de saúde em tempos de pandemia e o papel das tecnologias
Coordenador da Pós-Graduação Digital Health do Iscte Executive Education

Gestão dos profissionais de saúde em tempos de pandemia e o papel das tecnologias

Foi necessário aumentar o número de profissionais em muitas organizações de saúde para lidar com a pandemia em 2020. Uma perspetiva apenas quantitativa não serve o futuro. Um maior número significa invariavelmente uma maior necessidade de coordenação, articulação e liderança.

As tecnologias digitais trazem um potencial imenso de novas articulações profissionais, através do aumento de capacidade de gestão de competências profissionais das organizações ou dos próprios macros-sistemas como sejam os grupos privados ou o SNS. O primado da equipa multidisciplinar multi-organizacional e multi-profissional é cada vez mais uma evidência. Na oncologia, por exemplo, só tecnologias digitais serão capazes de juntar em torno do mesmo doente/caso as necessárias competências profissionais. Enquanto que no passado, oncologistas médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, geneticistas podiam estar sob o mesmo teto, cada vez mais, há necessidade de convocar saberes, técnicas ou procedimentos muitos concretos que fazem com que a ligação remota, teleconferência de casos, ou a partilha de informação digital seja um imperativo quase diário nos grandes centros e departamentos de cuidados oncológicos.

Um outro desafio na gestão de profissionais de saúde numa era de saúde digital prende-se com a capacidade de liderar à distância – a tele-liderança. Há competências como a tele-liderança e a capacidade de trabalhar e se relacionar à distância de forma altamente profissional, terá provavelmente vindo para ficar no pós-covid-19.

A tele-liderança é a capacidade de liderar uma equipa ou uma organização a uma distância significativa, durante um período de tempo significativo, sem a necessidade de interação face- a-face. Liderar usando artefatos indiretos, como declarações de missão, cartas de compromisso, descrições de cargos ou soluções mais técnicas, como redes corporativas, software de gestão do conhecimento, já existe há muito tempo. Líderes que implementam telemedicina, teleducação ou teletrabalho em geral são importantes mas isso não faz deles tele-líderes. Um tele-líder pode, como qualquer outro, fazer uso de ferramentas avançadas de controle de comportamento organizacional, como as mencionadas anteriormente, ou soluções de tecnologia da informação corporativa para aumentar sua capacidade. Ele ou ela usa ferramentas de teletrabalho, a diferença é que os tele-líderes mantêm a capacidade de liderar mesmo que nenhuma presença física seja prevista ou previsível em longos períodos de meses ou anos, ou, como seria o caso em contextos como são as Organizações Virtuais Totais (Total Virtual Organizations – TVOs). Estas são organizações que não têm ou terão nenhum momento em que seus membros se reúnam no mundo físico.

Por último, os líderes saudáveis e da saúde preocupam-se com a saúde dos seus colaboradores, focando-se no seu desenvolvimento e focados no conhecimento e na datificação dos processos, procuram liderar a transformação digital no sentido de conseguir usar as ferramentas digitais não para fazer melhor, mas para fazer mais diferente e por isso muito melhor.

Ora para desenvolver a capacidade de liderança e gestão de profissionais de saúde nesta era da tele-saude, tele-trabalho e da saúde digital de forma mais lata, é essencial a formação dos lideres intermédios, como sejam diretores de serviço, diretores clínicos, membros dos conselhos de administração, enfermeiros com responsabilidades de gestão, ou farmacêuticos e muitos outros administradores hospitalares e de gestão intermédia.

Só com novas competências de gestão e de saberes em saúde digital estarão estes líderes capacitados para continuar a coordenar aquela que é uma das forças de trabalho mais complexa, senão a mais sofisticada do mundo – a healthcare workforce.

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