Fome afetou mais de 821 milhões de pessoas em 2018
A fome no mundo está a crescer há três anos consecutivos, tendo afetado 821,6 milhões de pessoas em 2018, de acordo com um relatório da ONU hoje divulgado.
Em termos mais precisos, uma em cada nove pessoas no mundo não tinha o suficiente para comer em 2018, segundo os dados do relatório anual “O estado da segurança alimentar e nutrição no mundo”, documento assinado, entre outras agências, pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Após várias décadas em queda, o flagelo da fome começou novamente a ganhar dimensão a partir de 2015, referiram as agências signatárias do relatório, apontando que a desnutrição continua a persistir em vários continentes:
- Ásia, com uma população de 513,9 milhões de pessoas e mais de 12% da população afetada;
- África, com cerca de 256,1 milhões de pessoas e com uma percentagem de cerca de 20% da população afetada;
- América Latina e Caraíbas, dos quais as 42,5 milhões de pessoas cerca de 7% da população é afetada por este flagelo.
O relatório, coassinado também pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) e pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), estimou ainda que, durante 2018, mais de dois mil milhões de pessoas em todo o mundo, das quais 8% vivem na América do Norte e na Europa, não tiveram um acesso regular a alimentos suficientes, seguros e nutritivos, ou seja, viveram numa situação de insegurança alimentar moderada ou grave.
Por este motivo, o desafio da ONU de ter um mundo sem pessoas desnutridas até 2030 (que é apenas uma das 17 metas da ONU da Agenda 2030) está a revelar-se “um enorme desafio”, apontou o documento.
“Para preservar a segurança alimentar e nutricional, é essencial aplicar políticas económicas e sociais que consigam compensar a todo o custo os efeitos de ciclos económicos adversos, evitando a redução de serviços essenciais como os cuidados de saúde e a educação”, frisaram.
Apelando a uma “transformação estrutural” que seja verdadeiramente inclusiva dos mais pobres, as agências da ONU defendem que todas as preocupações relacionadas com a segurança alimentar e a nutrição sejam integradas “nos esforços para a redução da pobreza” no mundo, a par com outros assuntos igualmente prioritários, como a desigualdade de género ou a exclusão de grupos sociais.
Além disso, os progressos para reduzir o número de crianças com atrasos no crescimento para metade, outras das metas da Agenda 2030, têm sido insuficientes.
Atualmente, cerca de 149 milhões de crianças, em todo o mundo, com menos de cinco anos têm um défice no crescimento, sendo que cada um em sete bebés, cerca de 20,5 milhões, nasceu, em 2018, com baixo peso.
Paradoxalmente, o relatório observou que o excesso de peso e a obesidade continuam também a aumentar em todo o mundo, especialmente nos menores em idade escolar e nos adultos. No ano que passou, cerca de 338 milhões de crianças e adolescentes apresentavam sinais de excesso de peso e um em cada oito adultos no mundo eram obesos, o que representa cerca de 672 milhões de pessoas.
EQ/Lusa