Falta uma resposta “temporária e de qualidade” para quem não tem médico de família

Alexandra Fernandes, especialista em Medicina Geral e Familiar na ULS Almada-Seixal, fala sobre os desafios de quem não tem médico de família e defende uma resposta temporária para estes utentes.

“Deveria existir uma resposta temporária e de emergência que facilitasse o acesso a cuidados de saúde de qualidade a quem ainda não tem médico de família, porque estas pessoas estão francamente em desvantagem no acesso à saúde.” O apelo é de Alexandra Fernandes, médica de família e um dos rostos do início da reforma dos cuidados de saúde primários. Sendo uma defensora do modelo unidade de saúde familiar (USF), sobretudo modelo B, considera, contudo, que não se pode esquecer quem não tem ainda médico/enfermeiro de família.

De acordo com os dados de agosto deste ano, do Portal da Transparência do SNS, havia 1.675.663 utentes sem médico atribuído (sem contar com os 13.868 que não têm por opção).Os mais afetados são, essencialmente, utentes das regiões de Lisboa e Vale e Tejo e Algarve.  Alguns deles tiveram médico de família durante muitos anos e ficaram sem o ter por o mesmo se ter reformado e não ter sido substituído.

Acrescem os que nunca o tiveram por viverem em regiões com escassez de profissionais de saúde e os imigrantes que chegaram mais tarde e ainda não conseguiram ter médico, ou que, apesar de terem emprego e descontos para a Segurança Social, não têm número de SNS atribuído por atrasos na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).

“São estas pessoas que acabam por recorrer mais às urgências hospitalares e a consultas avulsas nas UCSP, como grávidas, crianças, doentes crónicos e pessoas economicamente frágeis”, menciona.

Para a médica, não é concebível que haja pessoas sem acesso a um direito considerado universal e, por isso, em 2022, decidiu, com outros profissionais, avançar com a criação da Via Verde Saúde (VVS), no Seixal, que funcionou até final de abril de 2024.

“Na VVS Seixal conseguimos dar resposta a grávidas e crianças até aos 2 anos, exame global de saúde dos 5 anos, planeamento familiar a todos os casais interessados, acompanhamento de doentes crónicos complexos, renovação de todo o receituário crónico, entre outros cuidados. Nesta Via Verde era possível, também, ter consultas de doença aguda, após triagem e encaminhamento pelo SNS 24, consultas de MGF e teleconsultas sempre que adequado”, recorda.

As VVS era apenas uma resposta temporária e de emergência, não substituíam as USF. Este modelo permitiu disponibilizar cuidados de suficiente qualidade e dignidade a quem, no melhor dos cenários, tinha  de esperar três a cinco anos para ter uma equipa de saúde familiar.”

MJG

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