4 Mar, 2024

“Existe muita iliteracia em saúde e ainda se acha que ter HPV é sinónimo de cancro”

Além do rastreio, a ginecologista Amélia Pedro apela a que os médicos falem com as mulheres e esclareçam que um teste positivo não significa que se tem cancro do colo do útero.

Hoje assinala-se o Dia Internacional de Consciencialização sobre o HPV. Amélia Pedro, presidente da Secção Portuguesa de Colposcopia e Patologia do Trato Genital Inferior da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, alerta para a importância do rastreio. “A sua ausência é o principal fator de risco para se ter cancro do colo do útero”, frisa. Apela, assim,  a todas as mulheres que vão com regularidade ao ginecologista ou a consulta de Planeamento Familiar com o seu médico de família. “A infeção por transmissão sexual mais frequente é o HPV e 70-80% da população sexualmente ativa vai ter alguma vez este vírus.”

Mas receber a notícia de que se tem um teste positivo não deve ser visto como ‘o fim do mundo’, daí que a responsável recomende a todos os ginecologistas e médicos de família que falem com as utentes. “Existe muita iliteracia em saúde, a maioria, mesmo as que já fizeram a vacina, não sabem o que é o HPV e as que sabem, acham que é sinónimo de cancro. Temos de esclarecer que é um vírus que pode até ser eliminado pelo próprio organismo.”

Continuando: “Mesmo nas piores estirpes, é preciso passar 10 a 20 anos para que se desenvolva uma doença oncológica. É um vírus que raramente provoca cancro.”

Aconselha ainda que o médico, ginecologista ou especialista em Medicina Geral e Familiar, observe com atenção o colo do útero, a vagina e a vulva quando faz o rastreio para “detetar patologia macroscópica, como as verrugas genitais  que são causadas por HPV e que, embora benignas, têm de ser tratadas para se evitar transmissão sexual”.

Questionada sobre as mais-valias da vacinação, acredita que vai fazer toda a diferença. “Ainda é cedo para se ter dados concretos, mas sem dúvida que haverá benefícios e iremos assistir a uma redução deste tipo de cancro, porque, em Portugal, temos uma taxa elevadíssima de adesão à vacina (mais de 90%).” No caso dos rapazes, ronda os 80%, mas, mesmo assim, são “percentagens muito boas” quando comparadas com outros países.

Relativamente à população imigrante, Amélia Pedro reconhece que são mulheres que vêm de países onde a taxa de vacinação é muito menor e é “uma preocupação” o facto de existir tendência para terem as estirpes de HPV mais graves. Contudo, refere, “acaba por ser mais fácil chegar a estes grupos do que às portuguesas que nunca vão ao ginecologista ou a consulta de Planeamento Familiar”.

MJG

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