14 Dez, 2018

Estudo sugere ligação entre útero e função cognitiva

Um novo estudo, realizado por uma equipa de investigação da Universidade do Arizona, EUA, revela que as funções do útero vão para além da gravidez, podendo também influenciar a atividade cerebral.

Através de testes realizados em ratos, os investigadores descobriram que a remoção do útero, procedimento cirúrgico conhecido por histerectomia, tem um impacto na memória espacial.

“Algumas investigações feitas anteriormente demonstraram que as mulheres que se submeteram à histerectomia, mas que mantiveram os seus ovários, tinham um risco acrescido de demência se a cirurgia ocorresse antes da menopausa natural”, observa a professora Heahter Bimonte-Nelson, autora sénior desta investigação.

O estudo, publicado na revista Endocrinology, tinha como objetivo avaliar se a remoção do útero poderia influenciar a função cognitiva.

Para tal, foram utilizados ratos fêmeas, que foram divididos em quatro grupos. Num grupo, os investigadores removeram os ovários, noutro o útero, e num terceiro, a equipa removeu os ovários e o útero. Os ratos do quarto grupo atuaram como grupo controlo, recebendo uma cirurgia falsa, na qual seus órgãos reprodutores foram deixados intactos.

Seis semanas após a intervenção, os investigadores treinaram todos os ratos para andarem num labirinto e, gradualmente, foram modificando diferentes elementos desse espaço para avaliar a memória dos roedores.

Como resultado, os investigadores descobriram que os animais que sofreram histerectomias apresentaram maior dificuldade em caminhar no labirinto comparativamente aos ratos dos outros grupos. Nenhum dos outros tipos de cirurgia parecia ter qualquer impacto na memória dos ratos ou no número de erros cometidos durante o teste.

Resposta poderá estar nas hormonas

De forma a encontrar uma explicação para a associação entre o útero e a atividade cognitiva nos ratos que foram submetidos a histerectomias, os investigadores testaram os níveis hormonais, verificando que os ratos do grupo dos que realizaram apenas as histerectomias tinham um perfil hormonal diferente em comparação com os do grupo controlo.

“Embora os ovários fossem estruturalmente semelhantes em todos os grupos, as hormonas produzidas no grupo que recebeu apenas a histerectomia resultaram num perfil hormonal diferente”, afirma Stephanie Koebele, uma das autoras desta investigação.

“As hormonas afetam o cérebro e outros sistemas do corpo, e ter um perfil hormonal alterado pode afetar a trajetória do envelhecimento cognitivo e criar riscos de saúde diferentes”, explica.

No futuro, a equipa de investigação pretende realizar novos estudos para entenderem melhor o impacto das alterações hormonais na função cognitiva, e perceber se é permanente ou de curta duração.

Mónica Abreu Silva

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