Equidade na saúde das pessoas LGBTQIAP+
Ana Macedo, Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve; ABC – Algarve Biomedical Center; Joana Saraiva, médica interna de MGF na USF Cidade do Lis; Sara Cardoso Nunes, interna de Medicina Geral e Familiar na USF Lauroé, Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas da Universidade do Algarve; ABC – Algarve Biomedical Center; Joana Saraiva, médica interna de MGF na USF Cidade do Lis; Sara Cardoso Nunes, interna de Medicina Geral e Familiar na USF Lauroé

Equidade na saúde das pessoas LGBTQIAP+

As pessoas de grupos minoritários, nomeadamente minorias sexuais e de género (ou seja pessoas que se identificam como sendo LGBTQIAP+ – lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, queer, intersexo, assexuais, pansexuais e outros), têm condições de saúde piores do que as pessoas que não fazem parte destes grupos. Não tanto pelos determinantes físicos, mas sobretudo pelas barreiras de acesso aos cuidados de saúde.

Numerosos estudos efetuados nos Estados Unidos e na Europa, mostraram que mais de metade das pessoas assume não dizer aos profissionais de saúde a sua orientação sexual e/ou a sua identidade de género. Um número elevado, na ordem dos 10% para as pessoas homossexuais, e na ordem dos 30% para as pessoas transgénero, afirma que já sofreu discriminação no acesso aos cuidados de saúde, referindo recusa em ser atendida, linguagem ofensiva, não reconhecimento da sua família, filhos, cônjuge, e agressões físicas ou assédio.

A situação acima exposta tem como consequência direta que as pessoas LGBTQIAP+ evitem ou atrasem a procura de cuidados de saúde, o que por sua vez conduz a menor prevenção e ao agravamento de patologias existentes. Refira-se a titilo de exemplo que as mulheres lésbicas, pese embora tenham a mesma prevalência de cancro da mama que mulheres heterossexuais, têm 3 vezes mais risco de ter um cancro da mama fatal. Se falarmos de doença cardiovascular a situação também é grave, com um risco maior de tabagismo, obesidade, consumo de álcool, comportamentos que se assume estar diretamente relacionados com o nível de stress intrínseco às micro-agressões diárias (por exemplo “brincadeiras” e “piadas” homofóbicas ou transfóbicas ou uso incorreto da linguagem), naquilo que se designa por stress de minorias.

Conseguir-se uma saúde igual para pessoas LGBTQIAP+ passa por reconhecer a falta de equidade atual e trabalhar no sentido da inclusão, através da sensibilização e formação de profissionais e da sociedade em geral.

No que diz respeito aos profissionais de saúde, a formação de profissionais nos Cuidados de Saúde Primários reveste-se de particular importância. Por definição, os CSP prestam cuidados longitudinais, acompanhando os utentes ao longo de toda a vida, abrangendo atividades de prevenção, vigilância, doença aguda e referenciação para níveis de mais diferenciados de cuidados. Para que o papel dos CSP seja adequadamente cumprido, é essencial uma boa relação entre os profissionais de saúde e o utente, que passa também pelo respeito de orientação sexual e identidade de género. Já faz parte das boas práticas de consulta perguntar como o utente prefere ser tratado; os profissionais devem procurar ter uma atitude semelhante relativamente a género e orientação sexual, indagando em lugar de assumir. Este pequeno passo adicional é essencial para construir a relação médico-doente e prevenir a evicção da procura de serviços de saúde, o que a longo prazo teria um impacto negativo na saúde do utente LGBTQIAP+.

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