18 Out, 2018

Transplante de células estaminais elimina VIH de seis doentes em Espanha

Uma investigação conjunta do Hospital Gregorio Marañon e do Instituto "IrsiCaixa de Barcelona” comprovou a cura de 6 doentes infetados com VIH após transplante com células estaminais.

“Podemos estar perante novos tratamentos para curar a Sida, estes dados são muito animadores”, explica João Sousa, Diretor de Qualidade do Laboratório Bebé Vida.

A investigação, publicada na prestigiada revista científica Annals of Internal Medicine, confirma que os 6 doentes que receberam transplantes de células estaminais têm o vírus indetectável no sangue e tecidos. Há inclusivamente um doente que não revela sequer anticorpos, o que indica que o VIH poderá ter sido eliminado do seu organismo.

Os doentes mantêm o tratamento antirretroviral, contudo, os investigadores crêem que a procedência das células estaminais (sangue do cordão umbilical e medula óssea), assim como o tempo decorrido para atingir a substituição completa das células do doente paciente pelas do dador (18 meses num dos casos), poderão ter contribuído para o desaparecimento do VIH, o que abre uma nova porta para levar a cabo novos tratamentos para curar a SIDA.

“Estes dados vêm comprovar o potencial das células estaminais do cordão umbilical além das aplicações que já hoje são conhecidas. Este é um campo onde os estudos a decorrer e as descobertas futuras têm um peso muito forte”, acrescenta João Sousa.

A investigadora da IrsiCaixa, Maria Salgado, autora do artigo juntamente com Mi Kwon, hematologista do Hospital Gregório Marañon, explicaram que o motivo pelo qual os fármacos atuais não curaram o doente infetado com VIH está relacionado com o “reservatório” viral formado por células infetadas pelo vírus, que permanecem em estado latente não podendo ser detetadas nem destruídas pelo sistema imunitário. Este estudo permitiu identificar alguns factores associados ao transplante de células estaminais que poderão contribuir para a eliminação do referido “reservatório viral” no organismo.

Aos dias de hoje, o transplante de células estaminais servia exclusivamente para tratar doenças hematológicas graves.

O estudo baseou-se no caso do “Paciente de Berlim” – Timothy Brown – um indivíduo infetado com VIH que em 2008 se submeteu a um transplante de células estaminais para tratar uma leucemia. O dador tinha uma mutação chamada CCR5 Delta 32 que fazia com que as suas células sanguíneas fossem imunes ao VIH, evitando a entrada do vírus nas células.

Timothy Brown deixou de tomar a medicação antirretroviral e atualmente o vírus está indetectável no sangue, sendo considerado a única pessoa no mundo curada do VIH. Desde então, os cientistas investigam possíveis mecanismos de erradicação do VIH associados ao transplante de células estaminais.

O estudo incluiu 6 participantes que já haviam sobrevivido a pelo menos 2 anos após receber o transplante e todos os dadores teriam que ter a mutação CCR5 Delta 32 nas suas células.

“Selecionamos estes casos porque queríamos centrar-nos nas outras possíveis causas que poderiam contribuir para a eliminação do vírus”, referiu Mi Kwon. Depois do transplante, todos os participantes mantiveram o tratamento antirretroviral e conseguiram a remissão da sua doença hematológica depois da retirada dos fármacos imunosupressores.

Depois de diversas análises, os investigadores constataram que cinco dos doentes não apresentavam um reservatório detetável no sangue e nos tecidos e que no sexto doente, e sete anos após o transplante, os anticorpos virais desapareceram completamente.

Segundo a investigadora Maria Salgado, “este feito poderia ser uma prova de que o VIH já não está no sangue, contudo isto só se poderá confirmar parando o tratamento e comprovando se o vírus reaparece ou não”. O passo seguinte será fazer um ensaio clínico, controlado por médicos e investigadores, para interromper a medicação antirretroviral em alguns destes doenes e administrar-lhes novas imunoterapias para comprovar se se verifica o “reboot” viral e confirmar se o vírus foi ou não erradicado do organismo.

Artigo Annals of Internal Medicine Aqui

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