9 Mar, 2023

Doença Renal Crónica. “Todos os doentes têm direito a tratamentos individualizados”

No Dia Mundial do Rim, que se assinala hoje, Ana Farinha alerta para o impacto da doença renal crónica (DRC) a nível individual, social e económico. A secretária da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) deixa ainda críticas à falta de registos sobre doentes que não fazem hemodiálise e ao modelo de pagamento de tratamentos a entidades convencionadas.

Qual a prevalência da doença crónica renal  (DRC) em Portugal?

Infelizmente, Portugal é o país da Europa com maior prevalência de DRC e o 8.º país a nível mundial. Estima-se que, no mundo inteiro, a prevalência seja de cerca de 10% e, em Portugal, de acordo com um rastreio de base populacional de 2020, a percentagem atinge os 20% em qualquer fase da doença.

 

Qual a causa da DRC?

Existem diversas causas, mas a responsável pela maioria dos casos é a diabetes. Em segundo lugar, a hipertensão (HTA). São assim dois fatores de risco preveníveis e controláveis.

“Infelizmente, em Portugal não existe qualquer registo com dados sobre os doentes que não estão em diálise”

Duas patologias que geralmente caminham juntas…

É verdade! Além da insuficiência cardíaca e de todas as restantes comorbilidades associadas à diabetes e à HTA. Além disso, a DRC tem maior prevalência entre os idosos, apesar de poder afetar pessoas de qualquer idade, inclusive crianças. Acima dos 70 anos, estima-se que uma em cada duas pessoas tenha DRC. A DRC tem cinco estadios, sendo o último o mais conhecido pela população porque exige diálise ou transplantação. Infelizmente, em Portugal não existe qualquer registo com dados sobre os doentes que não estão em diálise. Sabe-se somente que cerca de 3 mil doentes iniciam tratamento substitutivo da função renal todos os anos.

“Além do sofrimento individual e da própria família – há jovens que têm de deixar de trabalhar -, estima-se que 5% do Orçamento de Estado para a Saúde seja somente para tratamentos de diálise”

 E por que não existem esses números?

A DRC é uma doença esquecida, sobretudo pelo Ministério da Saúde, que é quem tem obrigação de ter este tipo de registos. A SPN tem um registo dos doentes em diálise para que possamos ter uma noção mais exata da realidade, mas de facto o Ministério não tem dado a devida atenção à DRC. Isso é visível também nas campanhas de prevenção. Por exemplo, no caso da diabetes mellitus, os médicos de família têm acesso a protocolos que os apoiam no acompanhamento dos doentes. No caso da DRC, nada existe. Não faz qualquer sentido quando se trata de uma doença com um impacto social enorme! Além do sofrimento individual e da própria família – há jovens que têm de deixar de trabalhar -, estima-se que 5% do Orçamento de Estado para a Saúde seja somente para tratamentos de diálise. É muito dispendioso. Estes doentes vivem uma situação penosa, porque dependem de uma máquina para viver. Este tratamento implica 4 horas dia sim dia não, fora o tempo gasto na viagem. Há quem viva longe. Acresce ainda a agressividade da diálise, muitas vezes causa fadiga.  

“São várias as limitações deste modelo, mas uma das mais relevantes é o facto de impedir o acesso por parte dos doentes à mais recente inovação terapêutica”

O que se pode fazer para alterar esta realidade?

A inovação é fundamental! Primeiramente, é preciso tratar a doença de base, caso contrário não se consegue mudar o prognóstico numa fase muito avançada. Além disso, é importante, mesmo na fase terminal, pensar-se na qualidade de vida.

 

A SPN é muito crítica em relação ao modelo de pagamento adotado para pagar os tratamentos em entidades convencionadas. Porquê?

Em Portugal, atualmente, está em vigor o preço compreensivo, ou seja, é um valor fixo, que está francamente desatualizado. São várias as limitações deste modelo, mas uma das mais relevantes é o facto de impedir o acesso por parte dos doentes à mais recente inovação terapêutica. A DRC tem um impacto individual, social e económico muito grande e todos os doentes têm direito a tratamentos individualizados.

SO

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