Doença inflamatória pélvica
Especialista em Ginecologia-Obstetrícia

Doença inflamatória pélvica

Abordar a Doença Inflamatória Pélvica (DIP), no contexto da Ginecologia, para a Medicina Geral e Familiar, é articular os cuidados de saúde primários com a especialidade, tentando melhorar o diagnóstico precoce e estabelecer a melhor orientação desta patologia ginecológica, de modo a reduzir a referenciação ou a urgência da mesma.

A DIP é uma patologia infeciosa do trato genital feminino superior, nomeadamente útero, trompas de Falópio, ovários e estruturas pélvicas adjacentes. Ocorre mais frequentemente em mulheres jovens, sexualmente ativas, com idades compreendidas entre os 15 e 25 anos.

Os principais fatores de risco incluem a atividade sexual em idade jovem, múltiplos parceiros sexuais, história de infeção sexualmente transmissível (IST), uso de dispositivo intrauterino e procedimentos ginecológicos invasivos. O seu diagnóstico é clínico, devendo ter um elevado índice de suspeição diagnóstica em mulheres que se apresentem com dor abdominal e/ou pélvica.

Deve passar por uma história clínica cuidada com a avaliação dos sintomas, história pessoal e familiar de IST. O exame físico, pélvico e ginecológico inclui uma avaliação criteriosa da região pélvica e dos órgãos reprodutivos. A mulher pode apresentar sintomas como corrimento vaginal mucopurulento, dispareunia e até manifestações graves como febre e náuseas. É importante notar que, em alguns casos, a DIP pode ser subtil e os sintomas podem não ser facilmente detetados, o que enfatiza a necessidade de explorar a patologia e alertar para a suspeição atempada.

Os testes laboratoriais passam por uma avaliação analítica com hemograma e proteína C-reativa que mostrem critérios infeciosos. A reação em cadeia da polimerase (PCR) da amostra cervical para pesquisa de Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis é um exame mais específico, além de exame microscópico do corrimento vaginal. De modo complementar, os exames de imagem podem ajudar no diagnóstico, nomeadamente uma ecografia ginecológica transvaginal. Ou em casos mais difíceis, a laparoscopia diagnóstica.

O tratamento passa por instituir antibioterapia, que deve cobrir os agentes principais da DIP, nomeadamente a Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis. Outros agentes incluem o Mycoplasma genitalium e bactérias anaeróbias. Além de um possível tratamento cirúrgico, em casos mais complexos ou refratários à terapêutica.

É importante e necessário um diagnóstico e tratamento precoce de modo a evitar o desenvolvimento de algumas complicações a curto e longo prazo, nomeadamente abcesso tubo-ovárico, aderências pélvicas, gravidez ectópica, infertilidade, peritonite, síndrome de Fitz-Hugh-Curtis e a dor pélvica crónica. Apostar preventivamente nos cuidados de saúde primários é mandatório, com educação, informação e consciencialização e promoção de comportamentos sexuais saudáveis.

Na prevenção secundária, a deteção precoce da infeção, estabelecer programas de rastreio da Clamydia trachomatis, tratamento atempado e tratamento dos parceiros sexuais. É essencial unirmos esforços na Medicina Geral e Familiar e na Ginecologia, porque mais vale prevenir do que depois remediar, mesmo na patologia ginecológica.

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