Diabetes tipo 2 e o rim ‘torturado’

Sofia Homem de Melo Marques, nefrologista no Hospital de Braga e no Hospital das Forças Armadas – Polo Porto, aborda a importância da medicação, nomeadamente dos iSGLT2, na proteção renal.

“Diabetes tipo 2 e o Rim Torturado” é o tema da palestra de Sofia Homem de Melo Marques, nefrologista no Hospital de Braga e no Hospital das Forças Armadas – Polo Porto. Um título “impactante”, porque, como diz, a “doença renal diabética (DRD) é a principal causa de doença renal crónica (DRC) em Portugal e no mundo”.

A DRD pode manifestar-se através de albuminúria e ou de agravamento da função renal, e afeta, segundo a médica, 20 a 40% das pessoas com diabetes mellitus tipo 2. Alguns fatores que mais contribuem para uma incidência crescente da doença renal diabética são a diabetes não controlada, ou de longa duração, o envelhecimento populacional e a associação com a hipertensão arterial ou obesidade.

“As consequências da DRC e, mais especificamente da DRD, são graves, por isso é essencial apostar no diagnóstico precoce e na implementação de medidas desde uma fase muito inicial”, enfatiza. Neste âmbito, a médica realça a importância dos cuidados de saúde primários. “Temos apostado em várias campanhas para dar a conhecer melhor a DRC, apelando a que se façam rastreios através de análises simples, que avaliem a presença de albuminúria e a função renal.”

Com a deteção atempada da patologia consegue-se evitar muitas das complicações subjacentes, sendo a mais relevante a necessidade de tratamentos substitutivos da função renal, como a diálise, que põe em causa a qualidade de vida.

Mas que medidas devem ser adotadas para se evitar chegar a esse patamar de gravidade? Da estratégia multifatorial que é necessário pôr em marcha, Sofia Homem de Melo Marques realça o papel, nos últimos anos, de algumas terapêuticas que têm permitido prevenir ou travar esta patologia cada vez mais prevalente. “É o caso dos inibidores do co-transportador sódio-glicose (iSGLT2), que têm revelado ter um papel essencial a nível metabólico, renal e cardiovascular.”

Como especifica: “Os iSGLT2 são uma classe terapêutica antidiabética, que visa controlar a hiperglicemia, contudo também têm benefícios paralelos, porque reduzem a hiperfiltração glomerular e a proteinúria.”

Continuando: “A sua ação desenvolve-se no canal do túbulo contornado proximal, bloqueando um co-transportador de sódio-glicose, e com isto ativando um feedback tubuloglomerular que vai permitir reduzir a hiperfiltração glomerular, além de reduzir o consumo energético pelo túbulo, aumentando o uso de ácidos gordos como substrato energético e apresentarem propriedades anti-inflamatórias e antifibróticas.” Em suma, são fármacos que não se limitam a controlar a hiperglicemia, têm ação nos órgãos lesados pela diabetes.

Os fármacos são importantes, todavia, a nefrologista lembra que também é preciso alterar comportamentos de risco. Perder peso, combatendo o sedentarismo, ter uma alimentação saudável com pouco sal, deixar de fumar e rever a compliance terapêutica e trabalhar a literacia para a saúde são medidas que não podem ser esquecidas.

“Estima-se que, em 2040, a DRC vai ser a quinta causa de morte a nível mundial”, alerta. E, de facto, os números não enganam. No mundo existe um bilião de pessoas com DRC, independentemente da sua etiologia. “Temos de estar atentos, porque a diabetes é cada vez mais prevalente por causa dos hábitos de vida pouco saudáveis e, entre os diagnosticados, têm aumentado os casos de DRD na sequência do aumento da esperança de vida.”

LUSA

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