19 Mai, 2020

Diabetes: Médico de família tem papel essencial na prevenção de complicações

70% das pessoas com diabetes morrem por doenças cardiovasculares. Um controlo da doença pode ajudar a prevenir não só este desfecho, como o risco de desenvolver complicações.

70% das pessoas com diabetes morrem por doenças cardiovasculares (1). Um controlo da doença pode ajudar a prevenir não só este desfecho, como o risco de desenvolver complicações a este nível, que é duas vezes maior em pessoas com diabetes tipo 2 em comparação com a população não diabética (2). Para tal, o médico de família desempenha um papel fundamental.

Sendo o médico que melhor conhece a pessoa com diabetes, quer do ponto de vista do seu historial de patologias, mas também do seu estilo de vida e da sua dimensão pessoal, assume uma posição privilegiada para avaliar o risco individual e particular de cada doente, gerindo-o ao longo dos anos, por forma a prevenir a ocorrência de complicações decorrentes do mau controlo da diabetes”, afirma Tiago Maricoto, médico de medicina geral e familiar.

Embora, segundo o especialista, o nosso país tenha vindo a assistir a “uma grande evolução nos últimos anos nos cuidados médicos à diabetes, muito fruto da implementação de um excelente programa de cuidados de saúde primários nesta matéria, ainda estamos longe de conseguir um bom controlo deste problema de saúde”(3). 

 

Má adesão à terapêutica é multifatorial

 

Na opinião de Tiago Maricoto, as razões prendem-se com a má adesão à terapêutica, que passa “não só pela toma de medicação, mas também pela prática de um estilo de vida saudável (4). Infelizmente este é um problema mundial, não é exclusivo da população portuguesa, e compromete significativamente a eficácia dos cuidados de saúde”. Esta baixa adesão está associada a “múltiplas causas, desde uma insuficiente relação médico-doente, a crenças e mitos, a pouca literacia em saúde, a problemas económicos ou dificuldades relacionadas com o estilo de vida profissional e pessoal das pessoas, a efeitos secundários dos medicamentos, entre outras”.

Para tentar minorar este problema, o especialista considera que é importante, durante a consulta, que estes profissionais de saúde procurem “identificar potenciais causas de não adesão, promovendo estratégias para ultrapassá-las, seja por parte do próprio utente, trabalhando nessas barreiras, ou mesmo por parte do próprio profissional, optando por estratégias alternativas, por exemplo”, reforçando que a equipa de saúde familiar, que acompanha estas pessoas ao longo dos anos, deve aproveitar essa proximidade para criar a “oportunidade para intervir de forma mais eficaz neste tipo de obstáculos e barreiras (5). É através do acompanhamento regular que se conseguem identificar as dificuldades que os utentes apresentam e procurar estratégias para as ultrapassar com opções terapêuticas e de estilo de vida que promovam o máximo benefício, com o menor risco”.

 

O papel fulcral do Enfermeiro de Família

 

Nesta equipa, o Enfermeiro de Família assume também um papel fundamental e ao qual tem sido dado, cada vez mais, um maior destaque. Para Tiago Maricoto, “o Enfermeiro de Família assume uma figura central no apoio à consulta de vigilância de diabetes, não só na realização da avaliação de parâmetros de saúde, mas também no aconselhamento para boas práticas alimentares, de exercício físico e de estilo de vida em geral”. Por isso, é cada vez mais frequente as consultas nos centros de saúde que reúnem enfermeiro e médico de família, com “com significativos ganhos em saúde”, na opinião do especialista

A articulação desta equipa com os cuidados hospitalares é igualmente importante e deve existir, de forma estreita e eficaz, sempre que necessário. “Frequentemente os médicos de família vêem-se na necessidade de solicitar ajuda a profissionais mais especializados para gerirem problemas específicos da diabetes”, sobretudo quando perante a necessidade de “tratamento de algumas complicações graves (amputações, retinopatia, insuficiência renal ou cardíaca ou mesmo os eventos cardiovasculares, etc..), ou mesmo de outras comorbilidades que podem também influenciar o controlo da diabetes (depressão, obesidade, hipertensão arterial, doença arterial periférica, entre outras)”, diz o especialista.

A 19 de maio assinala-se o Dia Mundial do Médico de Família e, dado o papel que estes profissionais de saúde desempenham no acompanhamento das pessoas com diabetes, a data foi escolhida para lançar o último episódio da série “O Casal”, protagonizada pelas personagens Maria Diabetes e Zé Coração. Ao longo de quatro episódios, o principal objetivo passou por alertar a população em geral para a relação perigosa entre a diabetes e as suas comorbilidades, mas também espelhar a importância do papel da pessoa com diabetes na gestão do seu risco em relação a outras doenças, nomeadamente, renais e cardiovasculares.

Esta foi uma iniciativa da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, do Núcleo de Estudos de Diabetes Mellitus da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, da Sociedade Portuguesa de Diabetologia e da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, que contou com o apoio da AstraZeneca, e que neste último episódio contou também com o apoio da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.

Episódios:

1º episódio aqui / 2º episódio aqui / 3º episódio aqui / 4º episódio disponível a 19 de maio no canal de Youtube da Diabetes 365º 

 

Referências

(1)   Aguiar, C. et al. 2019. Rev Port Cardiol. 38(1):53—63 Nova abordagem para o tratamento da diabetes: da glicemia à doenca cardiovascular

(2)   Gaurav S. Gulsin, Lavanya Athithan and Gerry P. McCann – “Diabetic cardiomyopathy: prevalence, determinants and potential treatments”

(3)   PROGRAMA NACIONAL PARA A DIABETES DESAFIOS E ESTRATÉGIAS, 2019

(4)   Gomes-Villas Boas, L. et al 2011.ADESÃO À DIETA E AO EXERCÍCIO FÍSICO DAS PESSOAS COM DIABETES MELLITUS. Abr-Jun; 20(2): 272-9.

(5)   Dias, A. M., Cunha, M., Santos, A., Neves, A., Pinto, A., Silva, A, Castro, S. (2011). Adesão ao regime Terapêutico na Doença Crónica: Revisão da Literatura. Millenium, 40: 201‐219.

 

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