“Devemos estar cada vez mais atentos às necessidades do doente de forma global”
No âmbito das IX Jornadas de Diabetes de Entre Douro e Vouga, em entrevista Luís Andrade, presidente do evento e diretor do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CHEDV), explicou vários aspetos relativamente à abordagem da diabetes neste centro hospitalar, nomeadamente a nível do tratamento e da articulação de cuidados.
Qual é a periodicidade da realização destas jornadas?
Estas são as IX Jornadas de Entre Douro e Vouga. Houve uma interrupção de aproximadamente de 4 anos, mas estas jornadas são realizadas de 2 em 2 anos, sempre com o intuito de formação dos profissionais de saúde dos cuidados de saúde primários e hospitalares.
Estas jornadas tem como principal missão a partilha de saberes entre profissionais de saúde, permitindo a evolução do conhecimento, crescimento científico e principalmente a interligação de equipas permitindo melhores cuidados prestados à nossa comunidade
Qual é a realidade do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CHEDV) relativamente à diabetes?
A nível nacional, e aqui também não somos diferentes, aquilo que é a estimativa da prevalência da diabetes andará na casa dos 13 a 14%. Falamos de uma das patologias com impacto enorme pelas complicações micro e macrovasculares assim como um peso em gastos na saúde.
De destacar que o doente diabético necessita de uma vigilância organizada e de um apoio multidisciplinar por médicos, enfermeiros, nutricionistas, podologistas, entre várias outras áreas na saúde.
Como avalia a articulação entre cuidados de saúde primários e cuidados hospitalares no CHEDV no que diz respeito à diabetes?
Estas jornadas são da responsabilidade dos cuidados de saúde primários e do CHEDV, ou seja, a comissão organizadora é constituída por médicos, enfermeiros, nutricionistas e podologistas, do CHEDV, do ACES Arouca, e do ACES Aveiro-Norte. São umas jornadas abrangentes, para todos os profissionais de saúde desta região do Entre Douro e Vouga, existindo aqui uma vertente de ligação e de criação de ponte que são relevantes para todos os profissionais de saúde, mas fundamentalmente para o utente.
O evento começa com um workshop sobre pé diabético. Na região, como são prestados os cuidados face este problema?
Com a criação da unidade integrada de diabetologia no CHEDV criou-se uma consulta de pé diabético há sensivelmente um ano. Esta é uma consulta de nível 1, que tem vindo a crescer e, neste momento, temos também a possibilidade de criar ligação com os cuidados de saúde primários. Pretende-se que no futuro esta ligação seja cada vez mais próxima, permitindo que o CHEDV tenha uma resposta para este tipo de doentes, impedindo que venham a ter lesões mais graves, precisando de outro tipo de intervenção ou vigilância.
Com a realização destas jornadas existe o intuito de apostar fortemente na partilha de conhecimentos e de formação?
A evolução cientifica na área da Diabetologia é bastante grande e acelerada, com novas tecnologias e terapêuticas. Estas jornadas têm como pilar essencial o estimulo da formação de todos os profissionais assim como a partilha de experiência e do conhecimento prático de cada um dos participantes.
Fala-se também da importância do controlo metabólico e da mudança de paradigma, uma vez que a diabetes não abarca apenas os níveis da glicemia. Nota que os profissionais de saúde já se encontram mais concentrados neste controlo metabólico e numa visão mais holística?
O controle multifatorial é primordial na diminuição das complicações na diabetes. O controle metabóico com a redução da glicemia e da HbA1c continua a ser um dos pontos essenciais no tratamento do doente com diabetes. A redução das complicações macrovasculares mas principalmente das complicações microvasculares são uma realidade conseguida em grande parte pelo controle da glicemia.
“Estas jornadas têm como pilar essencial o estimulo da formação de todos os profissionais assim como a partilha de experiência e do conhecimento prático de cada um dos participantes.”
Associado a tudo isto existe a questão do tratamento individualizado. Quais são os principais desafios nesta individualização?
Cada vez mais, perante um doente, temos linhas de orientação que devem ser tidas em consideração, chamadas guidelines, mas é fundamental tentarmos otimizar o controlo do doente, tentando controlar os fatores de risco e orientando a nossa atitude pelas guidelines, mas fundamentalmente tentando orientarmo-nos por aquilo que é o doente e por aquilo que é a doença.
Devemos estar cada vez mais atentos para as necessidades do doente de forma global, o que vai obrigar-nos a ter de individualizar cuidados e metas para aquilo que são as necessidades reais do doente.
Quando falamos de individualização temos de colocar o doente no centro e tentar encontrar as melhores soluções terapêuticas e de cuidados que permitam, simultaneamente, controlar a doença e dar ao doente aquilo que são as suas necessidades reais, permitindo reduzir complicações e aumentar a qualidade de vida.
“Quando falamos de individualização temos de colocar o doente no centro e tentar encontrar as melhores soluções terapêuticas e de cuidados”
Quanto à questão da consulta de transição de cuidados, como funciona e o que se pretende?
A consulta de transição consiste numa consulta multidisciplinar com médico diabetologista Pediatra e Adultos (Medicina Interna/Endocrinologia) e enfermeiro Pediatria e Adultos, permitindo o acompanhamento do adolescente com DM tipo 1 na transição dos 17-19 anos com a passagem da área da Pediatria para a área dos Adultos. Esta consulta tem como principal intuito diminuir o stress para o adolescente com DM tipo 1 na sua transição dos profissionais de saúde, permitindo desta forma colocar o doente no centro de cuidados.
Chegámos aos 100 anos de insulina. Como vê atualmente a insulinoterapia?
A insulinoterapia tem tido uma evolução fantástica. Estamos a falar de 100 anos de uma terapêutica que revolucionou radicalmente aquilo que é a medicina moderna, e que salvou milhões de vidas.
Neste momento, é uma terapêutica com insulinas inovadoras, muito mais lentas, praticamente sem pico, muito seguras. Estamos numa era completamente diferente, com grande diversidade de terapêuticas à escolha.
Quer deixar uma mensagem a quem vai participar nestas jornadas?
Acima de tudo, estas são umas jornadas em que vamos falar sobre diabetes, sobre doentes e sobre tudo aquilo que pretendemos para o Serviço Nacional de Saúde: colaboração entre todos e inovação. Um ponto de encontro de todos e para todos os profissionais de saúde da região de Entre o Douro e Vouga, tendo sempre como objetivo uma medicina de qualidade e de excelência.
CG
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