17 Jun, 2024

Complicações da apneia do sono face a outras comorbilidades

Joaquim Moita, pneumologista no Centro de Responsabilidade Integrada de Medicina do Sono da ULS de Coimbra e presidente da Assembleia-Geral da Associação Portuguesa de Sono (APS), salienta as várias complicações que a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) pode causar.

Complicações da apneia do sono face a outras comorbilidades

De acordo com o médico pneumologista, uma grande parte das complicações da SAOS é de natureza cardiovascular. “É consensual que a SAOS está associada, em 80% dos casos, à hipertensão arterial”. Joaquim Moita indica que surgem em consulta muitos casos de pessoas com idades entre os 30 a 40 anos, com casos graves de hipertensão, “que inclusive já se encontram a fazer a toma de dois a três fármacos”, tendo também um maior risco de AVC hemorrágico.

Por outro lado, “50% dos AVC, em idades abaixo dos 60 anos, têm uma relação com a apneia do sono, seja de forma direta ou indireta”. Numa relação direta, Joaquim Moita afirma que a SAOS favorece o aparecimento de arritmias, sendo este um ponto de partida para o aparecimento, por exemplo, de êmbolos.

O especialista afirma, ainda, que 80% dos casos de arritmias de fibrilhação auricular crónica também estão associados a SAOS e, na doença coronária, a percentagem é de 50%. “Não é por acaso que muitos dos enfartes ocorrem de madrugada, uma vez que esta é a altura em que um indivíduo com SAOS faz mais apneias, colocando o miocárdio sob stresse”. Joaquim Moita refere ainda outras patologias mais raras, como hipertensão da artéria pulmonar.

Além disso, dentro das doenças metabólicas, a diabetes é uma complicação da apneia do sono. “Existem vários estudos que vincam a associação da diabetes com SAOS, denotando que 50 a 60% dos doentes diabéticos têm SAOS. Uma pessoa com apneia do sono dorme muito mal e isso é responsável, por exemplo, pelo aumento do cortisol, uma hormona muito importante, mas que, em casos normais, durante o sono está a zero. Se a pessoa dorme mal, porque sofre de SAOS, o cortisol encontra-se alto, o que por sua vez leva ao aumento da glicemia. Este processo começa por ser um fenómeno de insulinorresistência, pré-diabetes, mas que pode evoluir para diabetes”, explica.

O médico indica ainda que cerca de 40 a 50% dos doentes com SAOS têm insónias. “A pessoa pode ter uma dificuldade inicial de adormecer, mas o que acontece sobretudo é que acorda a meio da noite por fazer paragens respiratórias, que só terminam com um micro despertar, que tanto pode ser de 2 ou 3 segundos como pode passar para um período mais longo.”

O pneumologista avança, também, que uma outra situação clínica, cada vez mais frequente, é a demência. “Os indivíduos começam a ter perda de memória e problemas cognitivos, como a dificuldade de foco, de tomar de decisões, irritabilidade. Tudo isto são sintomas representativos de um mau desempenho cognitivo, relacionado com o facto de a SAOS fragmentar o sono.”

 

CG

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