Apneia do sono. “O não tratamento desta doença implica um aumento de risco de acidentes laborais”
Em entrevista, Daniela Ferreira, pneumologista na ULS de Gaia e Espinho e presidente da direção da Associação Portuguesa de Sono (APS), fala sobre o diagnóstico da síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), bem como das possíveis consequências de um diagnóstico tardio.
Qual é a prevalência da SAOS?
A SAOS é um dos distúrbios do sono mais prevalentes, sendo que os valores variam entre os 10 a 40% na população em geral. Ainda é uma síndrome subdiagnosticada e que tem vindo a aumentar ao longo do tempo – há várias listas de espera para consulta e exames.
É uma doença que está associada ao excesso de peso e à obesidade, algo muito presente na sociedade atual, pelo que surgem cada vez mais pessoas com SAOS. Nesse sentido, uma das formas de diminuir os números que dizem respeito a esta patologia é precisamente lutar contra a obesidade.
“Outros fatores de risco são alterações anatómicas, consumo excessivo de álcool e tabaco”
Os sintomas da SAOS podem ser confundíveis com outros distúrbios do sono?
Sim, sobretudo no que diz respeito aos sintomas diurnos. Claro que, ao fazermos uma história clínica, percebemos algumas particularidades mais específicas da SAOS.
Muitas vezes dividimos o tipo de sintomas entre noturnos e diurnos. Nos noturnos, ouvimos os doentes queixarem-se de roncopatia, sensação de sufoco durante a noite ou de apneias presenciadas pelo/a companheiro/a ou necessidade de urinar várias vezes. Quando falamos dos sintomas diurnos, são muitas vezes o cansaço, o sono não reparador, a sonolência excessiva, e nestes casos sim, pode existir alguma confusão com outros distúrbios do sono. Porém, se o doente apresentar os sintomas noturnos já referidos, esses são mais típicos de um caso de SAOS. De qualquer forma, o diagnóstico final implica a realização de uma polissonografia.
Após o diagnóstico, como é feito o seguimento?
Perante o diagnóstico de uma doença temos de perceber qual é o impacto que essa patologia tem no doente, de modo a decidir qual o melhor tratamento.
Numa apneia do sono moderada a grave com queixas diurnas importantes, o tratamento de primeira linha passa pelo CPAP, um equipamento de pressão da via aérea positiva, que impede as paragens respiratórias durante o sono. Este é também o mais eficaz no caso de um diagnóstico de SAOS moderada a grave com sintomas.
Depois, dependendo do caso, podemos propor terapia posicional com alguns dispositivos vibratórios no caso de ser uma apneia do sono postural, ou um dispositivo de avanço mandibular, em casos selecionados.
Além disso, é fundamental alertar para a importância de algumas medidas não farmacológicas, como alimentação saudável, redução do consumo de álcool e cessação tabágica.
Quais são as consequências de uma não adesão ao tratamento ou de um diagnóstico tardio?
A SAOS é uma doença com grande impacto na atividade profissional, com aumento de risco de acidentes laborais, ou até mesmo acidentes de viação.
Aumenta também o risco cardiovascular, existindo maior probabilidade de se sofrer de hipertensão, arritmias, patologia cardíaca isquémica ou até mesmo acidentes vasculares cerebrais. É uma doença com um impacto importante e da qual deve ser feito um diagnóstico atempado no sentido de diminuir estes riscos.
CG
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