IFE e Endocrinologia, Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do CHULC
Causas secundárias da obesidade
A obesidade é uma doença crónica, complexa e multifatorial, estando envolvidos na sua fisiopatologia vários fatores de natureza genética, ambiental, fisiológica e comportamental.
Apesar de menos frequentes, certas condições clínicas, patologias ou fármacos podem potenciar ou ser causa de obesidade. O seu reconhecimento e deteção é de extrema importância por forma a prevenir o ganho ponderal e adotar estratégias terapêuticas adaptadas e dirigidas à situação clínica do doente. Assim, a abordagem de um indivíduo com obesidade deve compreender uma colheita de história clínica e exame físico detalhados por forma a ser identificada uma possível causa secundária de obesidade.
O pedido de exames complementares de diagnóstico num indivíduo com obesidade, para além de ser direcionado à deteção de complicações associadas à doença (dislipidemia, diabetes mellitus, síndrome de apneia obstrutiva do sono, entre outros), deve também ter como objetivo a identificação/exclusão de causas secundárias de obesidade na presença de suspeita clínica.
Certas patologias endócrinas podem associar-se a obesidade ou promover ganho ponderal, das quais se destacam: o hipotiroidismo, a síndrome de Cushing, a síndrome do ovário poliquístico, o hipogonadismo, a deficiência de hormona do crescimento, o pseudohipoparatiroidismo e as doenças hipotalâmicas.
Existem também causas monogénicas de obesidade, como as mutações no gene que codifica o recetor de melanocortina tipo 4 (MC4R) ou mutações no gene que codifica o recetor de leptina. O diagnóstico de obesidade na infância e a presença de outros estigmas clínicos, neurológicos e/ou comportamentais, deverá levantar estas hipóteses diagnósticas. A obesidade constitui também parte de algumas síndromes genéticas, nomeadamente a síndrome de Prader-Willi, síndrome de Bardet-Biedl e síndrome de Alström.
Realçam-se como promotores de ganho ponderal, certos agentes farmacológicos. Existem determinados fármacos que se associam classicamente a ganho de peso e que, se possível, deverão ser substituídos por alternativas terapêuticas sem impacto ponderal em indivíduos com excesso de peso e obesidade. Dentro dos fármacos que mais se associam a ganho ponderal, destacam-se os corticoides, antirretrovirais, certos antipsicóticos e antidepressivos, sulfonilureias e insulina.
Destacam-se ainda, como possíveis causas de obesidade, doenças do foro psiquiátrico, nomeadamente perturbações do comportamento alimentar ou depressão.
Em conclusão, a obesidade é uma condição complexa com uma variedade de causas subjacentes. É crucial reconhecer possíveis causas e/ou fatores predisponentes para obesidade, cujo tratamento adequado e direcionado facilitará a perda ponderal.