2 Abr, 2019

Cancro: dispositivo que capta células cancerígenas pode ser alternativa à biópsia

Aparelho deverá começar a ser testado em humanos dentro de três a cinco anos e promete ser mais eficaz do que os métodos tradicionais, como a biópsia, no diagnóstico da doença.

Um dispositivo portátil, testado até agora apenas em animais, pode recolher células cancerígenas diretamente do sangue de um doente e, desta forma, constituir-se como alternativa à biópsia. Desenvolvido por uma equipa de engenheiros e médicos da Universidade de Michigan, EUA, poderia ajudar os médicos a diagnosticar e tratar o cancro de forma mais eficaz, revela a universidade, em comunicado.

A biópsia, o método tradicional, permite fazer um diagnóstico definitivo da doença mas trata-se de um procedimento invasivo, que, em muitos casos, pode implicar dor para o doente. “Ninguém quer fazer uma biópsia. Se pudéssemos obter células cancerígenas suficientes do sangue, poderíamos usá-las para aprender sobre a biologia do tumor e direcionar os cuidados para os pacientes”, diz Daniel F. Hayes, professor no Centro de Pesquisa sobre o Cancro da Mama na Universidade de Michigan, e autor do artigo publicado na Nature Communications.

Num único minuto, um tumor pode libertar até mil células cancerígenas na corrente sanguínea humana. Os métodos atuais de captura de células dependem de uma amostra, o que pode falsear os resultados – uma vez que, mesmo com doentes com cancro metastisado, podem ser recolhidas amostras sem vestígio de cancro.

Sunitha Nagrath, investigadora da universidade do Michigan e principal responsável pelo desenvolvimento do dispositivo.

Este novo dispositivo permite captar as células de forma contínua (durante várias horas, se necessário), o que justifica a analogia de Sunitha Nagrath, investigadora na mesma universidade e principal responsável pelo desenvolvimento do dispositivo. “É a diferença entre ter uma câmera de segurança que tira um instantâneo de uma porta a cada cinco minutos ou uma que faz um vídeo. Se um intruso entra entre os instantâneos ninguém repara”, explica.

Em testes em animais, o aparelho captou 3,5 vezes mais células cancerígenas por mililitro de sangue em comparação com as amostras tradicionais de recolha de sangue, como a biópsia. Este avanço é especialmente importante porque se sabe que, geralmente, não é o tumor principal que mata, mas sim os tumores satélites, ou metástases.

Ainda assim, o construção do aparelho ficou marcada por algumas dificuldades. “A parte mais difícil foi a integração de todos os componentes num único dispositivo e, posteriormente, garantir que o sangue não coagule, que as células não obstruam o chip e que todo o dispositivo seja completamente estéril”, explica Tae Hyun Kim, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

A equipa de investigadores testou o dispositivo em cães, estimando que o mesmo possa começar a ser testado em humanos dentro de 3 a 5 anos.

Tiago Caeiro

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