21 Mar, 2023

Cancro de mama avançado HER2-low. “Trastuzumab-deruxtecan mostrou benefício significativo de sobrevivência quando comparado com quimioterapia”

Em entrevista, a oncologista Mafalda Casa-Nova, do Hospital Beatriz Ângelo, destaca a “mais-valia” do uso deste fármaco em doentes com baixa expressão de HER2, benefício esse que ficou demonstrado no estudo DESTINY-Breast04.

Quão importante é a aprovação de Trastuzumab-deruxtecan, a primeira terapêutica dirigida a doentes com cancro da mama HER2-low metastático?

Até há algum tempo, tratávamos estas doentes como tumores recetores hormonais positivos ou negativos, mas HER2 negativas. Agora temos mais uma hipótese de terapêutica dirigida eficaz neste grupo de doentes. É por isso necessária a aprovação deste tratamento pelas entidades reguladoras, para que consigamos dar mais uma oportunidade terapêutica com benefício de sobrevivência às doentes com cancro da mama avançado HER2-low.

“Foi um estudo positivo para o seu endpoint primário, a sobrevivência livre de progressão, mostrando um benefício significativo com o Trastuzumab-deruxtecan (T-DXd) relativamente à quimioterapia convencional”

Que conclusões destaca do estudo DESTINY-Breast04, que avaliou este fármaco?

O DESTINY-Breast04 é um estudo de fase III, multicêntrico, randomizado, que incluiu doentes com cancro da mama metastizado ou irressecável HER2-low que tivessem feito 1 ou 2 linhas prévias de tratamento para doença avançada. Foi um estudo positivo para o seu endpoint primário, a sobrevivência livre de progressão, mostrando um benefício significativo com o Trastuzumab-deruxtecan (T-DXd) relativamente à quimioterapia convencional. Também se verificou ganho relevante em termos de sobrevivência global nas doentes tratadas com T-DXd.

 

Que tipo de doentes podem beneficiar deste fármaco e a que percentagem corresponde entre todos os doentes com cancro da mama?

Este estudo incluiu doentes com cancro da mama avançado, com recetores hormonais positivos ou negativos, com baixa expressão de HER2, ou seja, HER2-low, portanto HER2 1+ ou 2+ (sem amplificação), e todas estas doentes beneficiaram com o tratamento com T-DXd. Atualmente 5 a 10% dos cancros da mama são diagnosticados em fases avançadas de doença e, entre 20-30% das doentes diagnosticadas em fase precoce, vão recair mais tarde. Portanto, serão essas as doentes que podem ser candidatas a este tratamento, após terem progredido a 1 ou 2 linhas de tratamento prévias.

O T-DXd veio trazer mais uma vaga de esperança às doentes com cancro da mama que lutam diariamente pela sua sobrevivência.

Como avalia a experiência de utilização doTranstuzumab-deruxtecan no Hospital Beatriz Ângelo?

O trastuzumab deruxtecano já faz parte do standard of care do tratamento de doentes com cancro da mama avançado HER2 positivo e é nesse contexto que temos mais experiência clínica com o fármaco, bem como em contexto de ensaios clínicos. A indicação em doentes HER2-low, apesar de já estar aprovada quer pela EMA (Agência Europeia do Medicamento) quer pela FDA (Food and Drug Administration), ainda não está reembolsada em Portugal e portanto o fármaco ainda não pode ser utilizado neste contexto no SNS. É um fármaco associado a alguma toxicidade, à qual temos de estar atentos, nomeadamente à Pneumonite/Doença pulmonar intersticial, mas que na maioria dos casos é manejável com interrupções de tratamento ou reduções de dose, sendo possível a manutenção da qualidade de vida sob o tratamento. O T-DXd veio trazer mais uma vaga de esperança às doentes com cancro da mama que lutam diariamente pela sua sobrevivência.

SO

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