29 Mai, 2024

Cancro da bexiga. “Um doente com sintomas carece sempre de descartar uma infeção ou incontinência urinária

Maio é o mês da consciencialização para o cancro da bexiga. Em entrevista, João Gramaça, especialista em Oncologia Médica, fala da importância de não descurar os sintomas, que podem ser facilmente confundíveis com casos de incontinência ou de infeção urinária. Aborda ainda as opções de tratamento atuais, bem como o papel do HPV enquanto fator de risco neste cancro.

É correto afirmar que o cancro da bexiga está a aumentar?

De um modo geral, tem vindo a registar-se um aumento da incidência deste tipo de cancro, sobretudo pela exposição ao tabaco, entre outros produtos químicos.

A mediana da idade de diagnósticos encontra-se entre os 60 e os 70 anos. Nos anos 90 existia uma forte exposição ao tabagismo por parte da população feminina, que se reflete, atualmente, na incidência de cancro da bexiga, dado que o desenvolvimento do cancro é um processo muito prolongado no tempo. Mas, os fatores ambientais também têm um papel importante. O simples facto de vivermos em meios urbanos pode contribuir para esta situação, nomeadamente através de questões como a poluição e as alterações climáticas. Porém, não são fatores que consigamos identificar de forma simples e linear.

 

Qual é a sintomatologia associada a este cancro?

No que diz respeito aos sintomas, é preciso ter em atenção, acima de tudo, as alterações a nível urinário: miccção, jato, presença de dor, alteração da coloração da urina, nomeadamente através da presença de sangue, alteração da frequência e falsas vontades.

No entanto, apesar de serem sintomas comuns de cancro da bexiga, podem ser indicadores de outras patologias. É preciso despistar, por exemplo, queixas de incontinência urinária ou de infeção urinária. Apenas após excluirmos estas patologias mais frequentes, devemos ponderar uma situação de cancro da bexiga.

 

Regra geral, é um cancro que se consegue diagnosticar precocemente?

Felizmente, uma percentagem significativa de doentes são diagnosticados em fases precoces. Devido aos sintomas locais, já mencionados, realizam uma cistoscopia, que permite ver o interior da bexiga. Muitas vezes, este é também um mecanismo que permite tratar o cancro antes de se metastizar.

Ainda assim, existe uma percentagem não desprezível de doentes diagnosticada em estadios mais avançados. Devemos estar atentos à sintomatologia, que, quando não facilmente explicável, requer que sejamos diligentes na procura da origem dos sintomas.

 

Quais são os avanços em termos de tratamento?

Uma vez que esta é uma doença localizada, existem modalidades terapêuticas adequadas para a excisão dos tumores. Além disso, e tendo em conta determinadas características, é possível realizar terapêuticas intravesicais para evitar a recorrência dos tumores localizados.

Em termos de doença localmente avançada, temos também múltiplas estratégias, nomeadamente quimioterapia seguida de cirurgia. Este processo permite uma boa taxa de sobrevivência livre de progressão da doença. Em cerca de metade dos doentes com patologia localmente avançada, os resultados são bastante consideráveis, principalmente em populações elegíveis para esquemas de quimioterapia intensiva.

Cerca de metade dos doentes com cancro da bexiga não tem condições para realização de quimioterapia intensiva, por exemplo devido à existência de outras doenças. Por esse motivo, neste momento, estão em desenvolvimento estratégias para que não tenhamos de recorrer à quimioterapia. Procuram-se terapêuticas inovadoras, como imunoterapia ou conjugados anticorpo-fármaco. Esta segunda opção oferece uma estratégia curativa em casos de doença localizada, não passível de uma terapêutica apenas local.

Em casos de doença metastática, logo não passível de cirurgia, existem atualmente estratégias, em vias de serem implementadas, que permitem a possibilidade de aumentar dois a três anos a mediana de sobrevivência, com qualidade de vida e com tolerância adequada.

Em suma, nos últimos cinco anos têm surgido avanços muito importantes no tratamento do cancro da bexiga, quer com estratégias sequenciais de quimioterapia seguida de imunoterapia, quer com estratégias de imunoterapia com anticorpos conjugados fármaco com fármaco, que têm permitido resultados bastante significativos. Além disso, no caso de doentes sem condições para efetuar quimioterapia intensiva podem, em opção, realizar um esquema com uma eficácia grande no setting paliativo de doença.

 

O HPV também se encontra incluído na lista de fatores de risco?

Apesar de não ser um fator estabelecido, como nos casos do cancro do colo do útero ou no cancro da cabeça e pescoço, existem, efetivamente, alguns indícios de que a infeção por HPV pode ter um papel determinante na formação do cancro da bexiga.

Esta relação é algo que poderá sofrer um efeito bastante positivo através da vacinação contra o HPV, não só nas mulheres, mas também pelo seu alargamento ao sexo masculino, o que poderá ter algum efeito em termos de redução da incidência deste tipo de cancro. Efetivamente, este não será um efeito imediato, mas sim algo visível após décadas. Ainda assim, não devemos descurar estes dados.

 

CG

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