17 Out, 2024

Canábis medicinal. Apostar em mais produtos e na comparticipação

Carla Dias é presidente do Observatório Português da Canábis Medicinal (OPCM), mas também é mãe de uma criança de 8 anos com epilepsia refratária. Em entrevista ao SaúdeOnline, realça os avanços na área nos últimos tempos e fala-nos das mais-valias de um tratamento que muda a vida do doente e da família.

Canábis medicinal. Apostar em mais produtos e na comparticipação

“Não tem sido fácil, mas temos tido vários avanços nos últimos tempos e contamos já com seis produtos de canábis medicinal aprovados pelo Infarmed”, afirma Carla Dias. Mãe de uma criança de 8 anos com epilepsia refratária, criou, em 2019, o OPCM para fazer chegar a canábis medicinal aos doentes portugueses que podem beneficiar desta terapêutica. O problema é que ainda nem todos têm acesso à mesma. “Esta é a maior dificuldade, porque os que estão aprovados e disponíveis na farmácia ainda não são adequados para determinadas patologias, quer pelas suas características clínicas quer pela via de administração não ser a mais adequada.”

Outro obstáculo é a não comparticipação dos seis produtos já vendidos em farmácia, o que pode ser um obstáculo para muitos doentes. “A OPCM está em conversações com o Infarmed e está a elaborar um documento sobre esta questão. Esta terapêutica apenas é recomendada em 3.ª linha, quando as restantes são refratárias, por isso por que não hão de ter o apoio do Estado?”, questiona-se.

A comparticipação é, de facto, uma das prioridades na luta da OPCM, já que se trata de uma questão de equidade, mas também de segurança. “Quando a pessoa está desesperada, por não ter acesso ao médico ou porque o clínico não quer prescrever este tipo de tratamento, recorre-se à via ilegal, através da internet ou do autocultivo, com todos os riscos que daí advêm para a saúde…”

Como alerta: “Ainda existe a ideia errada de que se trata apenas de uma planta, todavia, é uma planta com princípios ativos. Isto é problemático, porque não há qualquer tipo de vigilância e de segurança na internet.” Como cuidadora compreende que não seja fácil não ter respostas, mas, como diz, “é preciso ter todo o cuidado”.

No caso concreto da epilepsia refratária, o problema de saúde que afeta a filha, Carla Dias aguarda a aprovação de um canabinoide com uma percentagem de 10%, que pode mudar a vida de crianças e adultos com este tipo de patologia. “Os canabinoides têm uma ação ansiolítica e o simples facto de se melhorar o padrão vigília/sono, já permite diminuir as crises epiléticas, pelo menos as mais graves.” Como tal, o doente e a família conseguem aproveitar “muito mais o que a vida tem para lhes dar”.

Lembre-se que a canábis medicinal está indicada para casos de espasticidade associada à esclerose múltipla ou lesões da espinal medula; náuseas, vómitos (resultante da quimioterapia, radioterapia e terapia combinada de HIV e medicação para hepatite C); estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes sujeitos a tratamentos oncológicos ou com SIDA; dor crónica (associada a doenças oncológicas ou ao sistema nervoso, como dor neuropática causada por lesão de um nervo, dor do membro fantasma, nevralgia do trigémio ou após herpes zoster); síndrome de Gilles de la Tourette; epilepsia e tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, tais como as síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut; e glaucoma resistente à terapêutica.

MJG

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