14 Nov, 2022

“Algumas pessoas ainda acham que as crianças e os jovens têm culpa por ter diabetes tipo 1”

Sónia do Vale, diretora do Programa Nacional para a Diabetes da DGS, fala sobre alguns dos projetos que têm em curso e do combate contra o estigma em relação à diabetes tipo 1.

Promover hábitos de vida saudáveis e combater o estigma em relação às pessoas com diabetes tipo 1 é um dos lemas do Programa Nacional para a Diabetes (PND) da Direção-Geral da Saúde. “O estigma deve-se muitas vezes ao desconhecimento do que é esta doença”, afirma Sónia do Vale, diretora do PND.

Entre as várias ações que o Programa tem desenvolvido destaca-se, neste mês de novembro, um concurso para realização de vídeos pelas escolas. “Os jovens mostram-se muito interessados e é uma forma de conhecerem melhor esta doença”, enfatiza.

Mas o combate ao estigma do que é a diabetes tipo 1 não se cinge somente aos mais novos. “No ano passado, no âmbito deste projeto, fez-se um vox-pop sobre a diabetes, que foi comentado por jovens com diabetes tipo 1, que também partilharam as suas experiências e ideias. Algumas pessoas ainda acham que as crianças e os jovens têm culpa, por acharem que comeram doces a mais. Entre os mais velhos até houve quem visse a caneta de insulina como se fosse droga.”

É preciso, assim, “desmistificar estas ideias sem qualquer sentido, porque este tipo de diabetes deve-se a um processo autoimune, não prevenível pela adoção de estilos de vida saudáveis”.

Endocrinologista no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Sónia do Vale está à frente do PND há quase quatro anos. Desde então, diz que “não se parou, mesmo em tempo de pandemia”, o que permitiu este mês atingir um dos grandes objetivos do Programa: a comparticipação de novos tipos de dispositivos de perfusão contínua, neste caso, bombas de insulina híbridas e microbombas. “Desde 2019 que estamos a trabalhar neste projeto e, este ano já foram entregues vários destes equipamentos, tão essenciais às pessoas com diabetes tipo 1.”

Promoção de hábitos de vida saudável e a aposta nos rastreios

Fazendo questão de dizer que “a equipa do PND não consegue trabalhar sozinha na luta contra a diabetes”, vê com bons olhos as várias parcerias estabelecidas com municípios, universidades, entre outras. Exemplo disso é o programa “Mais Saúde, Menos Diabetes”, que visa promover hábitos de vida saudável junto das pessoas que ainda não têm o diagnóstico de diabetes, mas apresentam um risco aumentado de a desenvolver nos próximos anos.

Os primeiros projetos-piloto do programa “vão iniciar já em janeiro de 2023”.

“A alimentação adequada e uma vida mais ativa pode permitir a remissão da doença, evitar a insulinoterapia, ou a redução da terapêutica farmacológica também na diabetes tipo 2,”, afirma Sónia do Vale.

O “Diabetes em Movimento”, um programa comunitário de exercício físico, para pessoas com diabetes tipo 2, também vai retomar, após um interregno por causa da pandemia. “É uma iniciativa muito importante,  com bons resultados e que foi reconhecida recentemente como uma boa prática em saúde a nível europeu.”

O trabalho não se fica por aqui e, ainda no âmbito de projetos-piloto, o PND vai participar na Joint Action Care for Diabetes, cujo objetivo é também promover a adesão a estilos de vida saudáveis no tratamento da diabetes tipo 2, com melhoria do controlo da doença, redução da terapêutica ou remissão da doença.

Nos próximos tempos, com a ajuda do financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência, Sónia do Vale espera ainda que se consiga expandir a cobertura do programa de rastreio da retinopatia diabética a nível nacional, ter um acompanhamento em consultas de pé diabético nos diferentes níveis de cuidados, “de forma organizada, articulada e eficaz”, e apostar na telemonitorização.

SO

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