14 Mar, 2023

“A incontinência urinária de esforço e o prolapso dos órgãos pélvicos partilham fatores de risco”

Sofia Alegra, secretária da Secção Portuguesa de Uroginecologia da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, alerta para duas patologias que podem coexistir e ter grande impacto na vida da mulher: incontinência urinária e prolapso dos órgãos pélvicos.

Quais são as principais causas do prolapso dos órgãos pélvicos (POP)?

O prolapso dos órgãos pélvicos designa a descida da parede anterior e/ou posterior da vagina, útero ou cúpula vaginal, se a mulher for histerectomizada, e órgãos adjacentes como a bexiga, o reto e o intestino. A idade é um dos principais fatores de risco. O aumento da esperança média de vida tem levado ao consequente aumento da prevalência de POP, que associado a uma maior consciencialização para este problema, tem gerado uma maior procura de cuidados médicos. Outro fator de risco importante é a paridade. Quanto maior o número de partos, maior o risco de POP.

“Nas mulheres multíparas, cerca de 75% dos casos de POP estão relacionados com a gravidez e o parto, sendo que o parto vaginal se associa a um risco mais elevado.”

A obesidade aumenta o risco em cerca de 40 a 50% relativamente a mulheres com peso adequado. A história familiar, o tabagismo, a obstipação crónica, doença pulmonar crónica, status pós-histerectomia e doenças do tecido conjuntivo são outros dos fatores de risco para POP.

 

A incontinência urinária (IU) é uma das consequências, mas também pode ser um dos primeiros sintomas?

A incontinência urinária de urgência (IUU) e o aumento da frequência miccional podem estar relacionados com o POP e serem um dos primeiros sintomas. A incontinência urinária de esforço (IUE) e o POP partilham um grande número de fatores de risco, pelo que muitas vezes coexistem. No entanto, o prolapso pode ocultar a IUE que só vem a manifestar-se depois da correção do POP. Sempre que possível, deve fazer-se o diagnóstico de IUE oculta antes da cirurgia para que ela possa ser corrigida no mesmo tempo cirúrgico.

 

O impacto na vida da mulher é muito grande. Quais as principais queixas?

A presença de sintomas pode ter um grande impacto na qualidade de vida das mulheres e determinar a necessidade de tratamento. As principais queixas de POP são: sensação de “bola” à entrada da vagina, pressão/peso pélvico, hemorragia genital, corrimento, aumento da frequência e urgência miccional, retenção urinária, infeções urinárias de repetição, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga ou do reto.

 

Qual é o tratamento mais adequado para POP e, por conseguinte, para a IU?

O tratamento do POP e da IU é distinto, no entanto existem medidas conservadoras como alterações do estilo de vida e fisioterapia do pavimento pélvico que podem beneficiar ambos os problemas. Deverá ser sempre um médico especializado neste tipo de patologia a fazer o diagnóstico e a orientar o tratamento.

 

Em termos de prevenção, quer do POP como da IU, o que é aconselhável?

Relativamente à prevenção: a adoção de um estilo de vida saudável evitando o tabaco, a obesidade e a obstipação crónica; a correta ingestão de líquidos; a prática de exercício físico moderado, sem pesos elevados; a consciencialização dos músculos do pavimento pélvico e a realização diária de exercícios para o seu fortalecimento são algumas das medidas que podem evitar ou retardar o aparecimento/agravamento dos sintomas de POP e IU.

 

Olhando para o futuro, esperam-se novidades terapêuticas ou outras no que diz respeito à IU associada a POP?

A IU foi um dos campos da Medicina que teve um enorme avanço relativamente ao seu tratamento nas últimas duas décadas. Atualmente pode ser tratada com elevado grau de sucesso, quer através de medicação segura e com o mínimo de efeitos colaterais, quer através de cirurgia minimamente invasiva. A investigação nesta área continua, para que mais casos e mais complexos possam ser eficazmente tratados ou controlados.

SO

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