18 Mar, 2024

A importância da participação de doentes em congressos médicos

No seguimento da realização da Reunião Regional do Sul da Sociedade Portuguesa de Coloproctologia, cujo tema foi “A Voz do Doente”, Ana Povo, presidente do Conselho Diretivo do Centro Académico Clínico (ICBAS-CHP), falou sobre a importância da participação de doentes em congressos médicos.

A cirurgiã geral do Centro Hospitalar Universitário de Santo António considera que é indiscutivelmente uma mais-valia para os doentes, mas também para os próprios médicos: “O objetivo é que o doente possa partilhar a sua experiência com determinada patologia, as suas expectativas, as suas preocupações e o que é que procura em termos de soluções terapêuticas. Ou seja, dar conhecimento aos médicos, para que estes lhe possam oferecer as melhores soluções.”

A médica dá como exemplo o INFARMED, que, numa das fases de avaliação sobre novos medicamentos, tem previsto a inclusão de associações de doentes. “Imagine-se que temos dois medicamentos para tratar a mesma situação clínica, mas que um implica que o doente tenha de ir, semanalmente, ao hospital e o outro permite que faça a autoadministração em casa. É importante ouvirmos os doentes sobre as suas preferências, para que os médicos possam orientar a opção terapêutica de acordo com a sua vontade”, explica Ana Povo, acrescentando que, desta forma, estamos a fazer a “capacitação” das pessoas, relativamente ao seu tratamento.

“Claro que cada doente é uma pessoa individual e que o que é bom para um, poderá não ser para o outro. Contudo, isto não se consegue se não os envolvermos nos congressos médicos”, observa.

Mas, há também vantagens para os médicos: “Ouvir os doentes fora do ambiente de consulta é uma forma de os médicos mudarem o paradigma do tratamento, de deixarem de ser os ‘donos da verdade’ e de se focarem na pessoa.”

De facto, tal como refere Ana Povo, esta não é uma prática muito frequente, nem mesmo em congressos internacionais. Porém, está na altura de haver uma “mudança de mentalidade” e, tal como o exemplo do INFARMED, também as sociedades científicas deveriam incentivar a participação de doentes, através das associações, em reuniões científicas. “Correndo bem, no futuro, esta participação vai crescer, transformar-se e ser transversal a todos os congressos”, concluiu.

 

SM

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