VIH. “É preciso rastrear mais”
À Saúde Notícias, a infecciologista Rosário Serrão reforçou a necessidade de se oferecer mais informação à população e de se realizarem mais rastreios para o VIH, uma vez que muitas pessoas já são diagnosticadas tardiamente.
“A infeção que o vírus da imunodeficiência humana (VIH) provoca consiste em alterações/diminuição das nossas células defensoras”, começou por explicar, à Saúde Notícias, a infecciologista do Hospital de São João (Porto), Rosário Serrão. “Ao alterar o nosso sistema imunitário, o VIH vai fazer com que este fique sujeito a infeções que só surgem quando as nossas defesas estão em baixo”.
Este vírus, diz a especialista, “pode não dar qualquer manifestação, durante algum tempo”, sendo que, “em algumas pessoas, o quadro de sintomas pode ser semelhante ao de uma constipação ou de uma síndrome gripal”, o que dificulta o seu diagnóstico. E assim sendo, “a maioria das vezes não se pensa numa infeção por VIH”.
No entanto, “só conseguimos fazer o diagnóstico se pensarmos nele”. Assim, ao lidar com as pessoas que recorrem aos cuidados de saúde com alguma sintomatologia, tem de se “pensar que pode ser VIH”, revela. “Serão à volta de 45 mil as pessoas que vivem com o vírus em Portugal”. Porém, “muitos estudos dizem que há muitas pessoas que não estão diagnosticadas e que podem estar infetadas”.
Neste sentido, é essencial falar sobre o vírus responsável pela sida junto de todas as faixas etárias da população. De acordo com Rosário Serrão, “falta mais informação, também mesmo a nível dos centros de saúde, dos especialistas de Medicina Geral e Familiar (MGF), para pensarem no rastreio desta infeção”.
“Temos de pensar que estão a ser diagnosticadas muitas pessoas já tardiamente, sobretudo em casais heterossexuais, com idades mais avançadas acima dos 50 anos”. Assim, “não podemos pensar só nos grupos de maior risco, porque não há grupos de risco para a infeção de VIH”, salienta. “Tem de ser mais falado, tem de se passar a palavra e tem de se tentar rastrear mais. Temos de investir para que, pelo menos uma vez na vida, todas as pessoas façam o rastreio de VIH.”
Em especial, salienta a especialista, “quem sabe que correu um risco, tem de ser proativo e querer fazer o rastreio”, porque é essencial “tentar sinalizar estas pessoas o mais rapidamente possível”, de modo a estabelecer-se um acompanhamento contínuo e adequado.
“Sendo diagnosticada, a pessoa com VIH deve ser orientada para os cuidados de saúde onde será seguida”. Depois, a primeira consulta é efetuada o mais rapidamente possível, para todas as regras e normas serem cumpridas após o diagnóstico, realizando-se todos os exames e testes necessários.
Segundo explica a infecciologista, o doente tem de perceber “que vai ter de iniciar uma terapêutica e que vai ter de a manter ao longo da vida”, sendo essencial “reter estas pessoas”. Como tal, “tentar que elas não faltem às consultas e cumpram o tratamento” é o principal objetivo destes profissionais de saúde.
“As consultas, exames e medicamentos são gratuitos nos casos de infeção por VIH”, reforça a médica. Assim, às pessoas diagnosticados com o vírus da imunodeficiência humana “cumpre-lhes fazerem o tratamento, pela saúde deles e também pensando na saúde pública”, uma vez que, uma pessoa com infeção por VIH, se devidamente tratada e medicada, pode não transmitir a infeção. “Além de estar a melhorar a sua saúde e a esperança de vida, também está a ter um cuidado a não transmitir a infeção a outra pessoa”.
No mesmo âmbito, Rosário Serrão reforça o papel do Serviço Nacional de Saúde (SNS) no acompanhamento aos portadores deste vírus. “Quer à pessoa que vive com VIH ser orientada em relação à infeção, quer ao nível das consultas hospitalares que existem em todo o país, não tenho dúvida que estas pessoas são muito bem acompanhadas. Não tenho dúvidas de que o SNS trata muito bem estes doentes”.
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