Veterinários querem plano de contingência animal integrado na Proteção Civil
A Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) quer que a Proteção Civil passe a integrar veterinários no âmbito de um plano de contingência para animais em situação de catástrofe, o qual se prepara para discutir com o Governo
As reuniões com o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e com o Ministério da Administração Interna já estão pedidas e a expectativa do bastonário da OMV, Jorge Cid, é a de que aconteçam entre esta semana e a próxima.
A proposta surge na sequência dos grandes incêndios da região centro do território continental, que queimaram milhares de hectares em Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos e outras localidades vizinhas, e que mataram também milhares de animais, de companhia e de agropecuária.
A resposta da OMV foi imediata, mas voluntária e baseada na boa-vontade dos profissionais, e das empresas por este contactadas, que deram resposta no meio de um cenário de “catástrofe e de pânico”. Jorge Cid, que espera que não haja “uma próxima vez”, quer que, se houver, haja também um plano.
“Fomos confrontados com uma falta de um plano que desse resposta imediata a estas situações. Vamos propor à tutela, ao Ministério da Agricultura e ao da Administração Interna, para além de haver uma petição em que os médicos veterinários pedem para integrar a Proteção Civil, para criar um plano para poder resposta”, disse o bastonário dos veterinários.
Jorge Cid disse ainda perceber que para a Autoridade Nacional de Proteção Civil, “a prioridade são as pessoas” mas defendeu que “tem que haver um plano paralelo, que inclua não só veterinários mas também engenheiros zootécnicos e outros profissionais, que possam ocupar-se da parte animal”.
“A Proteção Civil, que está preparada para acorrer a situações de catástrofe a nível humano, na parte animal não estava, sobretudo nesta zona, de minifúndio”, em que foi preciso acorrer a pequenas propriedades muito espalhadas, com poucos animais em cada uma, o que só foi possível devido ao conhecimento que os veterinários locais – municipais e dos serviços de saneamento – tinham da região, dos proprietários, e dos próprios animais, legalmente obrigados a um registo.
A resposta governamental chegou três dias depois do início dos fogos, consequência da “pouca agilidade” de uma “máquina burocrática” que respondeu “demasiado tarde” para permitir salvar todos os animais que, ainda assim, os veterinários conseguiram salvar no terreno, onde estiveram praticamente desde o início.
“Sentimos que não havia nada preparado. Se a OMV não tem avançado de imediato, logo no domingo, esses animais teriam morrido todos”, disse o bastonário.
Jorge Cid afirmou que, mais do que o sustento de muitas pessoas daquelas localidades, estes animais são, para a maioria, “uma espécie de complemento de vida”, e a sua razão de viver, alertando as autoridades para a necessidade de olharem para estes casos “para além dos números” e das questões financeiras.
“Aquela gente olhava para os seus animais com um carinho diferente das de zonas de grande densidade animal. São os seus animais, as suas ovelhas, as suas cabras, eram a maneira de as pessoas se sentirem úteis, vivas e de terem uma razão para viver. Isso é que as pessoas têm que pensar e é para isso que temos alertado as autoridades”, disse.
O primeiro passo que a OMV pretende dar é o da criação de um grupo de trabalho que defina aquilo que venha a ser o plano de contingência animal, mas este terá necessariamente que prever, segundo Jorge Cid, a disponibilização imediata de ajuda para animais e a definição de zonas de resgate e acolhimento, onde estes possam permanecer em segurança até haver condições para regressarem a casa.
É preciso também que se pense o transporte de animais – não só de companhia, mas também os de exploração e, eventualmente, de grande porte, supondo que um parque ou zoológico possa ser atingido por uma catástrofe – e, igualmente importante para os veterinários, um plano de recuperação e salvamento da fauna selvagem.
“Uma das coisas que tentámos fazer no terreno foi, depois de contactar uma empresa que nos forneceu cereais, pôr junto às orlas queimadas cereais para a fauna selvagem poder sobreviver, uma vez que ficou com a alimentação muito reduzida”, referiu Jorge Cid sobre o caso do incêndio de Pedrógão Grande.
Nestes incêndios, e em “tempo recorde”, disse Jorge Cid, os veterinários conseguiram reunir, contactando laboratórios e empresas de alimentação, não só os medicamentos e material necessário para tratar os animais feridos, como a alimentação que precisavam no imediato.
Foram reunidos e imediatamente deslocados para a região, depois de as empresas garantirem o transporte, uma tonelada de alimentação composta para animais de companhia, 60 toneladas de feno e 40 toneladas de ração para animais de exploração.
Sem isto, teriam morrido muitos mais, disse o bastonário, que estima que cerca de 1.500 animais de exploração tenham morrido nos incêndios, num universo de cerca de 4.000.
Sobre o plano de contingência, Jorge Cid diz não ter estimativas de custos, mas garante que sai mais caro não o ter.
“Não vamos pensar que somos um país rico e que vamos ter um plano altamente sofisticado, mas também não podemos estar completamente desfalcados. No meio-termo estará a virtude. É evidente que custará dinheiro, mas pouparia muito dinheiro”, disse.
LUSA/SO/SF