22 Nov, 2018

“Uma estratégia a sério tem de ter um orçamento”. Alzheimer Portugal pede verbas para a área das demências

Rosário Zincke critica o facto de não terem sido alocadas verbas ao programa nacional para as demências nem ao Estatuto do Cuidador Informal, que acabou até por não avançar. Associação assinala 30 anos com um conferência que decorre hoje e amanhã em Lisboa.

Rosário Zincke, vogal da direção da Alzheimer Portugal (AP), considera, em declarações ao Saúde Online, que esta “é a grande questão”. “O facto de não existir uma verba não nos deixa confortáveis”, reforça, lembrando que “na proposta de orçamento não foi incluída qualquer verba para o estatuto do cuidador”. “Sabemos que uma estratégia a sério tem de ter um orçamento, é um principio”, diz.

Em junho, o Secretário de Estado da Saúde, Fernando Araújo, criava, através de despacho, uma estratégia para a área das demências, que prevê que, no prazo de um ano, cada ARS tenha definido o seu plano de ação. O objetivo é promover a articulação das respostas existentes nas comunidades, “de forma a que a pessoa com demência tenha um perfil de cuidados definidos e não ande às cegas à procura das respostas”, explica Rosário Zincke.

Há muito que a Alzheimer Portugal vinha pedindo “uma política comum, uma estratégia para as demências reconhecendo-as como uma prioridade de saúde pública”. Esta estratégia pretende também “capacitar os profissionais e os cuidadores para melhor lidarem com essa situação”, continua a vogal da direção da AP.

Nas próximas quinta e sexta-feiras a Alzheimer Portugal assinala 30 anos de existência com a realização da conferência “Uma visão holística sobre as demências”. Rosário Zincke faz “um balanço positivo” do trabalho da associação mas avisa que “ainda há um trabalho de sensibilização a fazer”. “Há falta de serviços, nem toda a gente tem as respostas adequadas”, acrescenta.

 

A associação tem criado, ao longo dos anos, um leque de serviços para pessoas com demência: gere quatro centros de dia Lisboa, Pombal, Estoril e Matosinhos) e uma unidade residencial (a Casa do Alecrim, no Estoril) e tem serviços de apoio domiciliário. “Vemos estes equipamentos como experiências locais de boas práticas para serem replicadas por outras entidades”, explica Rosário Zincke.

As pessoas com demência “podem precisar de atenção permanente de um técnico ou de uma auxiliar durante o dia inteiro”, diz a vogal da direção da AP, para justificar a necessidade de se criarem respostas específicas para elas.

O combate ao estigma é ainda um dos grandes desafios. “Existe muito desconhecimento sobre o que é a demência”, refere Rosário Zincke. Em Portugal, estima-se que existam 180 mil pessoas com demência (destas, cerca de 130 mil são portadoras da doença de Alzheimer).

Rosário Zincke espera poder usar as conclusões da conferência como “arma política, em aspetos fundamentais como a investigação, à intervenção, combate ao estigma e direitos”.

Saúde Online

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