29 Dez, 2020

Um terço das vagas para contratar médicos ficou por preencher

“Estamos a deixar escapar médicos num momento em que precisamos deles mais do que nunca”, lembra a Federação Nacional dos Médicos.

É mais um concurso que deixa centenas de vagas por preencher. Lançado em setembro, o concurso, para contratar médicos recém-especialistas nas áreas hospitalares e de saúde pública para o SNS, tinha 950 lugares abertos mas apenas só 593 foram preenchidos. Ou seja, 37,6% dos lugares ficaram por ocupar, avança o jornal Público.

Também na medicina geral se verificou o mesmo cenário: das 435 vagas abertas, 120 ficaram por preencher (27,6%). No total, apenas se celebraram 908 contratos de entre 1385 vagas disponíveis, isto é, um terço dos lugares ficou por preencher.

Estes resultados referem-se ao concurso lançado para os recém-especialistas que terminaram a formação na primeira fase, o que habitualmente acontece entre Março e Abril. Este ano, contudo, por causa da pandemia, terminaram a formação mais tarde o que teve como consequência o atraso do concurso, que só arrancou em setembro.

Para o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, “esta é uma tendência tem vindo a solidificar-se nos últimos anos.” “O que me faz confusão é que todos sabem disto. O Ministério da Saúde sabe, a ACSS sabe, mas não têm feito nada para ultrapassar este problema”, critica Jorge Roque da Cunha.

Por mais que digam que há mais médicos, a verdade é que no terreno não há. Vão aos hospitais. Não haverá um hospital no país que tenha os mínimos nas escalas de urgência. Temos muitos médicos a pedir escusa de responsabilidade, a dizer que não se responsabilizam porque não têm as condições mínimas”, afirma Roque da Cunha, em declarações ao Público.

Já o presidente da FNAM diz que o resultado insatisfatório de mais um concurso “demonstra de forma inequívoca o desinvestimento nas condições de trabalho”. “Estamos a desperdiçar esta formação e a deixar escapar médicos num momento em que precisamos deles mais do que nunca”, lembra Noel Carrilho.

 

Ocupadas apenas 22 das 39 vagas na área de Saúde Pública

 

Num altura em que o SNS se debate com a falta de médicos de saúde pública, ficaram por colocar 17 médicos um pouco por todo o país. Para Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, a diferença “não se dá tanto pela opção pelo privado ou por abandono, mas por estarem empenhados no combate à pandemia e não conseguirem concluir o internato”.

“São precisas condições de trabalho ótimas, com unidades de saúde estruturadas, com boas condições físicas e sem equipas desfalcadas. Não é só abrir vagas, é preciso investir nas unidades de saúde”, alerta o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. Rui Nogueira sublinha que que “um em cada três ou cada quatro médicos que se formam não fica no SNS, o que é muito”.

Muitas das vagas por preencher continuam a concentrar-se em unidades hospitalares e centros de saúde do interior, cronicamente carenciadas de profissionais. Rui Nogueira lembra a importância de avançar com a criação de vagas condicionadas (cerca de 10%), que assegurariam que os jovens médicos pudessem trabalhar em centros de saúde de zonas carenciadas durante um determinado período de tempo, antes de ocupar o lugar por si escolhido.

TC/SO

 

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