19 Set, 2018

Um em cada 10 doentes em hemodiálise não tem rede de suporte

Um em cada 10 doentes renais que faz hemodiálise não tem qualquer rede de suporte, concluiu um estudo sobre o perfil destes pacientes segundo o qual a maioria são homens com mais de 65 anos.

Um em cada 10 doentes renais que faz hemodiálise não tem qualquer rede de suporte, concluiu um estudo sobre o perfil destes pacientes segundo o qual a maioria são homens com mais de 65 anos.

O estudo, realizado por um grupo de assistentes sociais, em coautoria com a investigadora Sónia Guadalupe do Instituto Superior Miguel Torga, adianta que quase 11% da população que faz hemodiálise não tem nenhuma rede de suporte.

A maioria (72,2%) tem como principal fonte de apoio a família, os amigos e os vizinhos. Um grupo restrito destes doentes com insuficiência renal crónica depende exclusivamente de uma rede de apoio formal.

O estudo, que envolveu 3.114 doentes em tratamento em 25 clínicas de hemodiálise de todo o país em 2016, indica que a maioria da população em hemodiálise é masculina, com mais de 65 anos, casada, com casa própria e tem baixos níveis de escolaridade e pouca literacia em saúde.

Há, no entanto, um grupo de doentes que apresenta indicadores que apontam para situações de vulnerabilidade social, refere o estudo, que pretendeu “conhecer a fundo” a população em hemodiálise, disse à agência Lusa Marta Olim, assistente social e uma das autoras do estudo, a par de Sónia Guadalupe do Instituto Superior Miguel Torga.

O estudo, publicado no National Kidney Foundation of Nephrology Social Work, salienta que a percentagem de doentes desempregados, que residem em habitações precárias, que vivem sozinhos ou em famílias monoparentais e de pacientes que foram deslocados dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) ou que não têm nenhum apoio informal ou formal é “altamente relevante”.

Entre os desempregados, destacavam-se os de longa duração, já sem benefícios sociais, o que se deve à dificuldade de encontrarem um trabalho compatível com as suas limitações e com os dias de tratamento.

Marta Olim adiantou que, tendo em conta que as dificuldades sociais têm um “impacto clínico determinante”, a investigação quis “perceber os perfis maioritários e minoritários” destes doentes para poder intervir “o melhor possível” junto desta população.

“Isso tem que ver com o conhecimento das suas famílias, dos seus recursos económicos e de como, por exemplo, vivem”, disse a investigadora.

Segundo o estudo, o primeiro a retratar esta realidade em Portugal, 10% dos doentes são oriundos dos PALOP (Países de Língua Oficial Portuguesa), maioritariamente de Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé.

Vêm para Portugal ao abrigo de acordos de saúde e chegam em “condições muito frágeis”, precisando de ser “muito apoiados e suportados”, disse Marta Olim.

Chegam com uma “fragilidade psicossocial enorme e com um desenraizamento muito significativo”, sustentou a assistente social, contando que vêm a pensar que a sua estada em Portugal é “muito temporária e a maior parte das vezes é para a vida toda”.

O facto de não terem apoios formais, de estarem deslocados do seu país, e as exigências do tratamento dificultam a criação laços sociais informais, o que os torna uma população vulnerável e um alvo especial para intervenções de assistência social, salienta o trabalho.

A maioria dos doentes (53,8%) tem o primeiro ciclo, mas ainda há muitos analfabetos (10,18%). Apenas 7% tinham o ensino superior.

São pessoas que “têm pouco acesso, pouca informação, pouca literacia em saúde” e recorrem aos serviços em situações “muito mais avançadas de doença”, disse Marta Olim, explicando que existe uma associação direta entre a baixa escolaridade, o acesso aos cuidados de saúde e o facto de entrarem em situações de doença crónica.

Também por isso há uma população maioritária de homens em diálise. “Esta é uma doença silenciosa e os homens culturalmente vão ao médico muito mais tarde, só quando a dor aperta, a mulher começa a ir mais cedo”, por exemplo na gravidez, em que se deteta diabetes e hipertensão, que são as duas grandes patologias que desencadeiam a doença crónica.

Para as autoras do estudo, o conhecimento do perfil sociológico destes doentes é decisivo para melhorar programas específicos de intervenção de serviço social, bem como medidas de política organizacional e social capazes de satisfazer as necessidades dos doentes e de promover o seu bem-estar individual e social.

LUSA

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