17 Mar, 2023

Síndrome de apneia obstrutiva do sono. “A obesidade é o fator de risco mais importante”

Hoje assinala-se o Dia Mundial do Sono. Joaquim Moita, diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, alerta para uma síndrome que afeta a qualidade do sono e a saúde no seu todo.

Pode-se dizer que a SAOS é um dos problemas de saúde que mais afeta a qualidade do sono?

Sim. De acordo com Christian Guilleminault, o médico que descreveu a doença e que fez até hoje a sua melhor definição, a SAOS caracteriza-se por um quadro de sonolência, alterações neuropsiquiátricas e cardiovasculares, secundárias a episódios repetidos de obstrução das vias aéreas superiores a dez segundos durante o sono, que provocam quedas de oxigénio e despertares transitórios. Daqui resulta que o sono é fragmentado. O doente acorda mais cansado do que se deitou. Quanto à prevalência, e de acordo com o último grande estudo europeu (2015), 49,7% dos homens e 23,4 % das mulheres têm, ou virão a ter no futuro, SAOS moderado a grave. A prevalência aumenta com a idade. A SAOS é, na maioria dos casos, uma doença do envelhecimento.

 

O que causa esta doença?

A obesidade é o fator de risco mais importante. São igualmente relevantes todas as condições que diminuem a permeabilidade da via área superior como a posição recuada da mandíbula. Nas crianças, a hipertrofia das amígdalas é a principal causa da SAOS.

“Quanto mais vezes a pessoa se levanta para urinar, mais grave é a SAOS”

Além desse impacto, é uma doença que pode ser grave. A que sinais e sintomas se deve estar atento?

Cito os mais importantes: ressonar é o mais frequente; descrição de apneias o mais específico. A insónia é frequente. A nictúria é indicadora de gravidade. Quanto mais vezes a pessoa se levanta para urinar, mais grave é a SAOS.

 

Quais os tratamentos mais adequados?

 Nas formas moderadas e graves, o dispositivo de pressão é o mais indicado. Formas ligeiras podem ser tratadas com dispositivos (tipo goteiras) de avanço mandibular. Recorremos a Cirurgia Maxilo-Facial quando os outros falham ou quando existem deformações mandibulares ou mesmo por opção do doente. A cirurgia otorrinolaringológica é coadjuvante de todos estes tratamentos, sempre que houver obstrução anatómica do nariz e da faringe. Exercício físico e alimentação saudável são pilares essenciais para todas estas abordagens.

“… mas também pela forma gravíssima como a comunidade médica aborda farmacologicamente o problema”

Quando esta doença está sob controlo é possível que o doente volte a dormir bem?

 Sim. Dormir bem e despertar harmonioso.

 

Além da SAOS, que outros problemas podem afetar a qualidade do sono e, por conseguinte, a saúde e o bem-estar geral? 

A Síndrome das Pernas Inquietas atinge 5 a 15% dos adultos e caracteriza-se pela vontade irresistível de movimentar as pernas. Surge habitualmente ao final do dia, em períodos de inatividade, e prolonga-se noite dentro, provocando grande desconforto. Pode estar associado a outras patologias do sono, doenças renais, neurológicas, hipertensão arterial e enfarte do miocárdio. A privação de ferro é particularmente importante, admitindo-se cada vez mais que a alteração do seu metabolismo tem um papel central na génese da doença.

A Perturbação de Insónia Crónica atinge cerca de 9% de população. Define-se pela dificuldade em adormecer em 30 minutos, 3 vezes por semana durante mais de 3 dias (regra dos 3). Um problema sério pelas suas consequências: fadiga, cansaço, sonolência diurna, perda de concentração e memória, irritabilidade, ansiedade, mas também pela forma gravíssima como a comunidade médica aborda farmacologicamente o problema com o uso excessivo de benzodiazepinas, o que é inadequado e perpetuante da própria insónia. As benzodiazepinas provocam dependência, alterações cognitivas, demência precoce. Sabe-se hoje que a insónia tem uma base biológica, quando não tratada aumenta o risco de hipertensão arterial, doença coronária e metabólica.

SO

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