2 Fev, 2023

Sindicatos médicos estão divididos quanto à greve agendada para março

A greve agendada para os dias 8 e 9 de março não é consensual entre os sindicatos médicos. O Sindicato Independente dos Médicos acusa a FNAM de "ceder ao radicalismo e populismo" ao convocar uma paralisação enquanto decorrem negociações com a tutela.

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) anunciou uma greve nacional para 8 e 9 de março, alegando a “falta de medidas” para o Serviço Nacional de Saúde. No entanto, a decisão desta estrutura não é acompanhada pelo outro grande sindicato médico, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que considera a greve “uma cedência ao radicalismo e ao populismo” quando decorrem negociações com o Governo.

Por outro lado, o próprio governo garante que está empenhado nas negociações previstas até junho.

A FNAM decidiu avançar com a greve como “resposta à falta de compromisso, por parte do Ministério da Saúde, em negociar as grelhas salariais e na falta de medidas para salvar o SNS”, adianta a estrutura sindical em comunicado.

A decisão foi anunciada após a reunião desta quarta-feira dos sindicatos com o ministério, no âmbito das negociações que estão a decorrer há várias meses sobre matérias como as normas de organização e disciplina no trabalho, a valorização dos médicos nos serviços de urgência, a dedicação plena prevista no novo Estatuto do SNS e a revisão das grelhas salariais.

Segundo a federação, as negociações com o Ministério da Saúde têm “sido prolongadas no tempo, a um ritmo demasiado lento, onde se acumulam os pedidos de adiamento de reuniões e escasseiam as propostas por parte da tutela”. A estrutura sindical, agora presidida por Joana Bordalo e Sá, acusa o ministério de Manuel Pizarro de apresentar “medidas paliativas, através da recém-criada direção executiva do SNS, à revelia das negociações com os sindicatos”.

De acordo com estrutura sindical, os médicos chegaram a “uma situação insustentável”, uma vez que “estão exaustos e desmotivados face à falta de resposta do Governo, à situação difícil do SNS e ao cansaço acumulado durante a pandemia de covid-19.

SIM discorda da marcação de uma greve neste momento

Já o SIM demarca-se da greve. “Compreendemos a impaciência dos colegas da FNAM, mas o anúncio de uma greve, nesta fase, a meio das negociações é uma cedência ao radicalismo e populismo”, refere o sindicato numa nota hoje publicada no seu portal, sublinhando que “tudo continuará a fazer para evitar o recurso” à greve até 30 de junho, prazo com o qual se comprometeu para a conclusão das negociações com o Governo, nomeadamente sobre as grelhas salariais.

O SIM entende que “o momento é ainda de negociação”, criticando a FNAM por apresentar “propostas irrealistas que fragilizem o poder negocial dos médicos a troco de uma eventual maior exposição mediática”.

O sindicato liderado por Jorge Roque da Cunha elogia até tutela, congratulando-se com o alargamento do pagamento das horas extraordinárias “de forma condigna até ao fim das negociações”.

Contudo, critica o Governo que “não apresentou ainda quaisquer propostas formais” aos sindicatos, designadamente sobre as grelhas salariais e a dedicação plena. O SIM lamenta também que a tutela “não tenha dado respostas às propostas de organização e disciplina do trabalho médico e de organização do trabalho nos serviços de urgência que há mais de dois anos foram apresentadas, preferindo anúncios dispersos, com traços de demagogia”.

Em comunicado, o Ministério da Saúde assegurou que está a negociar de “boa-fé com todos os grupos profissionais” do setor e que, no caso dos médicos, estão a decorrer negociações de acordo com uma “ampla agenda que foi acordada pelas partes envolvidas e que está calendarizada até junho próximo”.

“Neste contexto, o Ministério da Saúde continua empenhado no diálogo e na procura de consensos dentro de um calendário que o Governo e os sindicatos estabeleceram de comum acordo”, salientou ainda o comunicado, ao avançar que a próxima reunião, a sexta no âmbito deste processo negocial, está agendada para 8 de fevereiro.

Estas negociações tiveram o seu início formal já com a equipa do ministro Manuel Pizarro, mas a definição das matérias a negociar foram acordadas ainda com a anterior ministra, Marta Temido, que aceitou incluir a grelha salarial dos médicos do SNS no protocolo negocial.

SO/LUSA

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