28 Mai, 2019

Quase 1 milhão de portugueses tem disfunções da tiroide

No dia 25 de maio celebrou-se o Dia Mundial da Tiroide, celebrando-se, entre 25 e 31 de maio, a Semana Internacional da Tiroide.

A tiroide é uma glândula que controla o nosso metabolismo, cuja principal função é regular diferentes funções do corpo através do armazenamento e secreção de hormonas no sangue. Entre outras funções, estas hormonas permitem que o nosso corpo use as suas reservas de energia de forma a que a temperatura corporal seja equilibrada e para que as nossas células adequadamente. Quando desreguladas provocam distúrbios que afetam mais de um milhão de portugueses e mais de 300 milhões de pessoas por toda a Europa, principalmente mulheres.

Apesar da grande prevalência da doença, existe ainda um grande desconhecimento das doenças associadas a esta glândula, bem como dos sintomas associados.

Sinais que podem indiciar um quadro clínico de distúrbios da tiroide

“A tiroide pode ser afetada por várias doenças que podem ter sintomas bastante diferentes. Dentro da disfunção da tiroide, ou seja, do mau funcionamento da tiroide podemos ter um funcionamento deficiente, que é o Hipotiroidismo – o mais frequente –, ou o contrário, o hipertiroidismo, que é a produção excessiva de hormonas”, explica em entrevista ao Saúde Online Hélder Simões, médico endocrinologista.

Dr. Hélder Simões

Além disso, ainda existem os “nódulos da tiroide e o cancro da tiroide”. Existe este grupo de doenças com sintomas um pouco diferentes.

“A tiroide é uma glândula que produz uma série de hormonas – a T4, a T3 – que são essenciais ao nosso funcionamento, uma vez que regulam o metabolismo, a frequência cardíaca, o consumo de oxigénio das células e até a temperatura corporal. Portanto, tem uma série de funções importantes”, continua.

Há pessoas que têm alguma pré-disposição devido a ter alguma disfunção da tiroide, nomeadamente hipotiroidismo. As pessoas que já têm contexto de doenças autoimunes, como por exemplo diabetes Tipo 1, artrite reumatoide ou Esclerose Múltipla estão em risco de ter disfunção da tiroide. Alguns doentes que tomam determinados medicamentos que afetam o funcionamento da tiroide podem estar também mais predispostos para ter disfunções tiroideias”, elucida.

Quando a tiroide não está a funcionar corretamente, está com deficiência (como acontece no caso do Hipotiroidismo), “os níveis de hormonas tiroideias baixam e nesta altura podemos ter alguns sintomas, como por exemplo o cansaço extremo, sonolência, intolerância ao frio, intestino a funcionar de forma mais lenta, frequência cardíaca baixa, pode notar-se irregularidades menstruais, aumento do volume da tiroide (o Bócio), algum aumento de peso”, entre outros.

Já no que respeita ao hipertiroidismo, existe um excesso das hormonas tiroideias, e daí advêm sintomas como “aumento da temperatura, transpiração, tremores, palpitações, diarreia, aumento do trânsito intestinal, perda de peso”. No fundo, tratam-se de sintomas opostos aos do Hipotiroidismo.

Para o cancro da tiroide, os principais fatores de risco são sobretudo genéticos, mas também a exposição a radiação é um fator – pessoas que estejam expostas a muita radiação (que tenham feito muitos exames, ou radioterapia), especialmente na infância.

Contudo, alerta que “não há nenhum comportamento que tenha de adotar para evitar a doença”.

“É fácil fazer o diagnóstico da disfunção tiroideia. Quando existem estas situações que descrevi, basta fazer umas análises para verificar os níveis das hormonas tiroideias – da TSH, para perceber se há disfunção ou não.”

No entanto, “estes sintomas não são específicos das doenças tiroideias”, alerta o médico, afirmando que existem outras situações clínicas em que os sintomas também são válidos.

As mulheres são as mais afetadas e, entre 160-175 milhões de mulheres no mundo vivem com algum tipo de doença da tiroide

“Por um lado, as mulheres estão mais predispostas para as doenças autoimunes. A principal causa das disfunções na tiroide é a tiroidite autoimune, doença inflamatória da tiroide. Nesses casos, a mulheres têm um risco acrescido.”

Quanto aos nódulos é possível que as mulheres tenham mais nódulos que são descobertos devido a um maior numero de queixas, o que leva a uma acrescida realização de ecografias, o que, por sua vez, permite detetar mais precocemente a doença.

“Essa pode ser uma razão para se notar um aumento da prevalência destas doenças nas mulheres.

O cancro da tiroide em muitos países desenvolvidos como o nosso, na mulher ocupa o 3º ou 4º lugar dos mais frequentes, verificando-se cerca de 1500 a 1600 novos casos por ano”, continua.

Além disso, “muitos dos doentes por diagnosticar têm disfunções muito ligeiras”, podendo até verificar-se inexistência de sintomas. “Ainda assim, é importante detetar porque o tratamento pode melhorar a qualidade de vida do doente”, acrescenta.

Estima-se ainda que cerca de 5% das mulheres grávidas desenvolvem hipotiroidismo

“Nesses casos, normalmente o hipotiroidismo já existia antes de a mulher engravidar. Nesses casos é muito importante que este seja diagnosticado ainda antes da gravidez. Isto porque no primeiro trimestre e até ao início do segundo, até cerca das 16 semanas de gestação, o feto não tem uma tiroide a funcionar corretamente, estando portanto dependente dos níveis da mãe. E as hormonas tiroideias são importantes para o desenvolvimento neurológico. Ora, se os níveis das mães estiverem deficientes, podem comprometer o desenvolvimento do feto”, diz o especialista.

Tratamento das Disfunções Tiroideias

No hipotiroidismo, o tratamento é realizado “com hormona tiroideia de substituição da hormona que está em falta, em forma de comprimido – Levotiroxina”.

No hipertiroidismo, o tratamento “é mais difícil”. “Pode passar pela toma de um comprimido que bloqueia o fabrico de hormonas tiroideia; pode ser necessário haver uma cirurgia – tirar a tiroide ou parte dela; e pode ainda ser preciso haver tratamentos com iodo radioativo”, explica.

Já no cancro da tiroide, “o tratamento é quase sempre cirúrgico, consistindo na remoção da totalidade da tiroide ou apenas parcialmente. Em casos mais agressivos é necessário complementar o tratamento com Iodo radioativo. O prognóstico é, em geral, bom”.

No entanto, alguns nódulos da tiroide mesmo benignos, pelo seu volume, também obrigam a cirurgia.

A comunidade científica acredita que estão por diagnosticar cerca de 50% dos casos

Foi através de estudos populacionais que se descobriu que haveria uma elevada percentagem de casos por diagnosticar, nos quais foram medidas as hormonas tiroideias à população em estudo e, se “percebeu que havia um grande número de pessoas com alterações nas análises – uns já sabiam que tinham essas alterações e outros não estavam a par”.

A comunidade científica estima que haja mais de 50% casos de disfunções da tiroide por diagnosticar, porque como referiu o endocrinologista “os sintomas são inespecíficos” e podem ser facilmente confundidos com outros diagnósticos. A multiplicidade de possíveis diagnósticos levam a que as pessoas não valorizem os sinais e procurem ajuda médica.

O médico adianta que “o tratamento é relativamente simples”. São doenças muito frequentes – a prevalência do Hipotiroidismo afeta cerca de 5% da população portuguesa e o Hipertiroidismo cerca de 2,5% em Portugal.

Além disso, a maioria dos homens é um pouco mais desligado da sua saúde – não vai com tanta regularidade ao médico e não fazem tantos exames”, explica Dr. Hélder Simões.

É precisamente por esse motivo, e com o objetivo de consciencializar a população para estas disfunções, a Federação Internacional da Tiroide irá promover a 11.ª edição da Semana Internacional da Tiroide, uma iniciativa da responsabilidade da Federação Internacional da Tiroide, que, em Portugal, é liderada pela Associação das Doenças da Tiroide e que conta ainda com o apoio da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM).

FACE UP THYROID DISEASE é o tema deste ano. Através de thyrojis, emojis (facilmente reconhecidos por todos), vão expressar sintomas em vez de emoções.

Erica Quaresma

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