7 Jul, 2021

Qual foi o impacto da pandemia nos cuidados de saúde?

Os resultados do inquérito revelam um ceticismo relativo à recuperação da oferta de cuidados de saúde para o seu estado pré-pandemia.

No âmbito do movimento “Saúde em Dia”, foram apresentados hoje, dia 7 de junho, os resultados do inquérito que procurou aferir o impacto da pandemia na oferta de cuidados de saúde primários, junto de administradores hospitalares, profissionais de saúde, associações de doentes, doentes e a população em geral.

Desenvolvido em 2020 pela Ordem dos Médicos e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, o movimento procurou alertar para a importância de os portugueses não deixarem de vigiar os seus sintomas e de procurarem cuidados junto dos seus médicos assistentes, sendo essencial continuar a cuidar da saúde mesmo em tempo de pandemia.

Neste sentido, para conhecer a perspetiva da população nacional relativamente à influência da pandemia na oferta e na acesso a cuidados de saúde primários, bem como na retoma aos mesmos dos doentes não-covid, foi promovido um inquérito construído através de várias entrevistas e questionários, cujos resultados foram revelados recentemente.

No âmbito dos administradores hospitalares, estes ressaltam que “foi do lado da procura que se notou uma forte quebra, nomeadamente nos serviços de urgência”. Segundo confirmam, não existiu uma diminuição significativa na oferta de serviços, mas o número de doentes que recorreu aos cuidados foi muito menor em comparação ao período pré-pandemia.

Relativamente à perspetiva dos médicos, quando inquiridos sobre as principais dificuldades associadas à sua prática clínica, estes “tendem a referir problemas “estruturais” do Serviço Nacional de Saúde”, os quais já existiam antes da disseminação do novo coronavírus, mas que foram, posteriormente, acentuados de modo muito expressivo.

Dentro destes problemas, os profissionais ressaltam a carga excessiva de trabalho burocrático, o próprio sistema informático, a dificuldade que sentem na gestão do seu tempo, o excesso de doentes, a grande carga de trabalho e a respetiva falta de pessoal e de colegas profissionais de saúde.

Em relação à oferta de cuidados, “2/3 dos médicos considera que os doentes não-covid foram profundamente impactados pela pandemia”, sendo que 50% considera que “a qualidade dos atos clínicos realizados foi muito ou extremamente afetada”, nomeadamente a realização de cirurgias relacionadas com as doenças oncológicas.

Já perante a perspetiva dos doentes, “4 em cada 10 doentes crónicos sentiram um agravamento da sua doença”, sendo que 21% não procuraram cuidados médicos e quase metade deste total justificou a falta de procura por receio de contrair o vírus SARS-CoV-2. No entanto, a maioria dos doentes relatou que “conseguiu resolver a sua situação ao contactar o centro de saúde ou hospital”.

Grande porção dos inquiridos salienta a dificuldade permanente relativa ao acesso a cuidados médicos, especialmente presenciais, a qual se encontra significativamente associada ao “cancelamento/adiamento de atos médicos, à dificuldade em marcá-los e ao tempo de espera até às consultas”.

Tal como os médicos, também os doentes reforçam a necessidade de recuperar os cuidados que “ficaram para trás”, incidindo “especialmente nas consultas, rastreios e exames e prestando especial atenção a doenças oncológicas e cardiovasculares”. Ainda assim, a maior parte dos participantes do estudo apresentam a crença de que os efeitos causados pela pandemia ainda vão perdurar mesmo após o fim da mesma.

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