10 Fev, 2022

Prevalência de parto instrumentado em Portugal é três vezes superior à média europeia, apura estudo

Mais de 60% das mulheres sujeitas a um parto instrumentado não consentiram o uso de fórceps ou ventosas.

A prevalência de parto instrumentado em Portugal é três vezes superior à média europeia e a mais de 60% das mulheres portuguesas não foi pedido “qualquer consentimento”, concluiu um estudo europeu que envolveu mais de 21 mil mulheres.

A investigação, que visava avaliar os cuidados de saúde prestados às mulheres e recém-nascidos, teve por base um questionário, desenvolvido de acordo com os ‘standards’ definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que abrangeu quatro dimensões: prestação de cuidados, experiência dos cuidados, recursos humanos e estruturas e as mudanças organizacionais relacionadas com a pandemia da covid-19.

Entre março de 2020 e março de 2021, responderam ao questionário 21.027 mulheres de 12 países europeus (Itália, Suécia, Noruega, Eslovénia, Portugal, Alemanha, Servia, Roménia, França, Croácia, Luxemburgo e Espanha), sendo que destas 1.685 eram portuguesas.

O questionário estava formatado tanto para mulheres que tiveram trabalho de parto (18.063) como as que não tiveram trabalho de parto (2.964). Entre as mulheres que tiveram trabalho de parto, 31% das participantes portuguesas revelaram ter tido um parto vaginal instrumentado, no qual foram utilizados fórceps ou ventosas para facilitar a expulsão do feto.

“Temos uma prevalência de parto instrumentado que é três vezes superior do que é a média dos restantes países (11%)”, disse a investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), Raquel Costa, sublinhando que esta é uma prática sobre a qual a OMS não estabelece nenhum princípio de recomendação ou não recomendação.

A Organização estabelece, no entanto, como prática não recomendada a realização de episiotomias, cuja percentagem que em Portugal se fixou nos 41%, representando o dobro da média europeia (20%).

À semelhança da realização de episiotomias, a manobra de Kristeller, que consiste na utilização de pressão externa sobre o útero e que também não é recomendada pela OMS, foi realizada em 49% das mulheres portuguesas com partos vaginais instrumentados, valor também superior à média europeia (41%).

Temos uma utilização exacerbada destas práticas. Quando olhamos para a percentagem destas práticas, estamos ao nível dos países com a pior qualidade de cuidados”, afirmou a investigadora, salientando que o estudo não permite fazer uma correlação direta com a pandemia da covid-19, pois não existem dados anteriores a esse período.

A par destes dados, o estudo concluiu que a 63% das mulheres portuguesas não foi pedido “qualquer consentimento” para a realização do parto instrumentado, valor que contrasta com a média europeia (54%) e 28% das referiram ainda não existir uma comunicação eficaz por parte dos profissionais de saúde, 41% disseram não ter tido envolvimento nas escolhas durante o parto e 32% referiram não ter sido tratadas com dignidade.

LUSA

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