Poluição Ambiental: Uma Questão de Saúde Pública
Doutora em Engenharia do Ambiente | Técnica Superior de Ambiente na ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável

Poluição Ambiental: Uma Questão de Saúde Pública

Existe uma relação clara entre o estado do ambiente e a saúde da nossa população. A COVID-19 foi mais uma chamada de atenção, que nos permitiu reconhecer de forma contundente esta relação, assim como a necessidade de encarar o facto de que a forma como vivemos, consumimos e produzimos tem um impacto negativo na nossa saúde e bem-estar.

A poluição ambiental é o maior desafio para a saúde pública mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, na Europa, uma em cada oito mortes resulta da poluição ambiental, representando a poluição atmosférica e a poluição sonora os principais riscos fundamentais e imediatos para a saúde.

A poluição atmosférica está no topo da agenda global e é amplamente reconhecida como uma ameaça à saúde pública, ao ambiente, ao clima e ao progresso económico.

Segundo a OMS, 7 milhões de pessoas morrem em todo o mundo a cada ano, devido à poluição do ar. Dados mostram que cerca de 91% da população mundial vive em locais onde os níveis de poluentes no ar ultrapassam os limites fixados, o que equivale a 9 em cada 10 pessoas, sendo os países de baixa e médio rendimento a sofrer um maior impacto1,2.

É o maior risco ambiental na Europa, principalmente nas cidades onde se concentram milhões de pessoas, indústrias e tráfego2. De acordo com o relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA), “Ambiente saudável, vida saudável” na Europa registam-se mais de 400 mil mortes prematuras todos os anos devido à poluição do ar e cerca de 40 milhões de pessoas nas 115 maiores cidades da União Europeia (UE) respiram ar contendo pelo menos um poluente acima dos valores-limite.

Apesar das melhorias significativas nas últimas décadas, também em Portugal persistem problemas de poluição atmosférica com efeitos na saúde humana e no ambiente, principalmente relativos a matéria particulada (partículas ultrafinas, PM2.5 e PM10) ao ozono (O3) e ao dióxido de azoto (NO2), sendo responsáveis pela morte de 6500 pessoas todos os anos.

A lista de efeitos comprovados entre a poluição do ar e a saúde das populações é vasta. Os efeitos combinados da poluição do ar ambiente (externo) e interior (edifícios) causam cerca de 7 milhões de mortes prematuras todos os anos, das quais 4,2 milhões estão relacionadas à poluição do ar ambiente e as restantes à má qualidade do ar interior. Em grande parte como resultado do aumento da mortalidade por acidente vascular cerebral, doenças cardíacas, doença pulmonar obstrutiva crónica, cancro de pulmão e infeções respiratórias agudas1.

Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a exposição aos poluentes atmosféricos contribui para a morbilidade e a mortalidade associadas a doenças do foro respiratório e cardiovascular, mesmo quando as concentrações dos poluentes se mantêm abaixo dos valores máximos legalmente fixados.

A AEA alerta para o facto de a poluição atmosférica afetar as pessoas diariamente, e embora os picos de poluição tenham o seu efeito mais visível (efeitos agudos), a exposição a longo prazo a valores baixos (efeitos crónicos) representa uma ameaça maior para a saúde3. Tanto a exposição de curto como de longo prazo à poluição do ar ambiente pode levar à redução da função pulmonar, infeções respiratórias e agravamento da asma. A maior ou menor severidade destes efeitos depende também do tipo de poluente e de fatores como a idade, condição física, predisposição genética ou pertencer a grupos de risco.

 

1 – Air Pollution – WHO

2 – Metade da população mundial está exposta a cada vez mais poluição atmosférica

3 – Poluição atmosférica: a nossa saúde ainda não está suficientemente protegida

O ruído está a converter-se numa epidemia, ao ponto de haver quem fale no meio científico, de estarmos perante a próxima grande crise de saúde pública4. Gordon Hempton afirma mesmo que o silêncio está em vias de extinção a uma velocidade superior à das espécies4.

O ruído ambiente é um problema à escala mundial, segundo a OMS constitui a segunda maior causa ambiental de problemas de saúde, logo a seguir ao impacto da poluição do ar. A exposição ao ruído ambiente tem impactes significativos na saúde física e mental assim como no bem-estar. É um problema generalizado na Europa, com pelo menos uma em cada cinco pessoas expostas a níveis considerados prejudiciais para a saúde, ou seja 20% da população. Isto corresponde a mais de 125 milhões de pessoas em toda a Europa.

A maioria das cidades portuguesas regista valores de ruído acima do limite legal de acordo com a legislação nacional e europeia em vigor. Dados recentes da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), revelam que 20% da população residente em Portugal Continental está exposta a níveis sonoros que induzem perturbações no sono e 15% está exposta a níveis associados a incomodidade moderada.

O ruído, apesar de apelidado muitas vezes, de assassino silencioso ainda é uma causa de morte pouco notada. Além da mortalidade prematura, a exposição prolongada ao ruído pode ter efeitos de natureza diversa sobre a saúde, a seguir descritos, entre eles o incómodo, perturbações do sono, efeitos negativos no sistema cardiovascular e no sistema metabólico, bem como deficiência cognitiva nas crianças5.

Incómodo – é uma das respostas mais prevalentes ao ruído e é descrito como uma reação ao stress que abrange uma ampla gama de sentimentos negativos, incluindo perturbação, insatisfação, angústia, desagrado e irritação. A resposta individual ao ruído depende não apenas dos níveis de exposição, mas também de fatores contextuais, situacionais e pessoais. Pode iniciar reações fisiológicas de stress que, no longo prazo, podem desencadear o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Perturbações do sono – o sono serve para garantir as funções vitais do corpo. O ruído fragmenta o sono, reduz a continuidade do sono e reduz a quantidade total de tempo de sono, o que pode ter impactos na agilidade, no desempenho no trabalho e qualidade de vida. As perturbações de longo prazo do sono podem também conduzir a problemas de saúde cardiovascular.

Efeitos metabólicos e cardiovasculares – o ruído é um importante fator de risco para doenças crónicas. A exposição ao ruído ativa reações de stress no corpo, levando a aumentos da pressão sanguínea, uma alteração da frequência cardíaca e libertação de hormonas de stress. Os efeitos cardiovasculares e metabólicos relacionados à exposição ao ruído podem também ser uma consequência da redução da qualidade do sono causada pela exposição ao ruído durante a noite, entre outros fatores adicionais ou mecanismos inter-relacionados. Esses efeitos crónicos podem levar a mortalidade prematura.

Desenvolvimento cognitivo em crianças – pode estar relacionado com a exposição ao ruído em casa durante a noite, o que pode causar problemas de humor, fadiga e prejuízos no desempenho das tarefas no dia seguinte. O ruído que afeta as habitações também pode causar problemas de hiperatividade e desatenção, levando a um menor rendimento académico5.

A ZERO tem procurado, de várias formas, dar uma maior visibilidade a estas duas questões ambientais e alertar e sensibilizar todos os atores envolvidos, pois a prevenção/diminuição da poluição é uma medida de saúde pública.

Dados – Environment noise in Europe 2020

 

4 – O nosso corpo não está equipado para tanto barulho e os efeitos podem ser graves

5 – Ruído do Tráfego Aéreo – Portugal e Lisboa, Infelizmente, no Topo das Preocupações à Escala Europeia

 

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